Blog do Boleiro

Barrado por problema cardíaco, Fabrício joga por prazer e agencia jogadores

Luciano Borges

Fabrício dá entrevista antes do jogo Foto: arquivo pessoal

Fabrício dá entrevista antes do jogo Foto: arquivo pessoal

Estádio Vereador José Ferez, Taboão da Serra (SP). O jogo do time da casa, o Taboão, terminou com vitória por 2 a 1 sobre o ECUS (Suzano), na segunda rodada da 2ª divisão do futebol paulista. Os gols dos vencedores foram marcados por dois veteranos: Viola e Fabrício Carvalho. Os atacantes são a grande atração da equipe dirigida pelo ex-volante Rogério, aquele das pedaladas do Robinho que passou por Corinthians e Palmeiras.

Foi a estreia da dupla de frente. Viola, aos 46 anos, faz do futebol um meio de diversão. ''Poderia parar faz tempo, mas gosto disso tudo: treinos, vestiário e jogo'', disse ao Blog do Boleiro.

Fabrício Carvalho é mais novo. Tem 37 anos. E pensa em seguir longe. ''Eu penso em jogar até os 40 anos. Enquanto tiver clube me ligando, estou jogando. Tenho saúde e vitalidade para isso'', disse.

Nada mal para um atleta que ficou dois anos parado, proibido de jogar por ter uma arritmia cardíaca. Em 2005, a vida de Fabrício Carvalho parou. Ele estava no auge da carreira. Em 2004, tinha marcado 25 gols na temporada. Foi um dos principais jogadores da conquista do Campeonato Paulista pelo São Caetano. Foi sondado por Palmeiras e Corinthians. Mas a morte do zagueiro Serginho, vítima de uma parada cardíaca num jogo contra o São Paulo, mudou tudo.

''As pessoas falam que eu estava no lugar errado, no momento errado'', disse o jogador. Nos exames pré-temporada, feitos com muito cuidado, foi detectada a arritmia. Os médicos aconselharam que ele deveria parar. Fabrício, assustado, parou. ''Fiquei com aquela dúvida. Passei um ano e meio fazendo exames. Fui à Coritiba pegar outra opinião do cardiologista Constantino Constantini, que cuidou do Washington (outro atacante que teve problemas cardíacos e voltou a jogar), e depois, o patologista Beny Schmidt me disse quer eu poderia jogar'', contou.

Schimidt chegou a assinar um relatório onde confirmava seu diagnóstico. Nenhum clube aceitou porque o médico não é cardiologista. Em 2007, o Goiás decidiu dar uma chance para Fabrício Carvalho.

O atual presidente do clube, Sérgio Raci, era conselheiro do clube em 2007. Ele é médico cardiologista e planejou um retorno gradual. ''Eu estava sem jogar há dois anos, estava pesando 10 quilos a mais. Voltei treinando com um aparelho que acompanha o batimento cardíaco, tome remédios preventivos e fiz exames a cada três meses. Quando mais treinava, mais eu melhorava'', contou o atacante.

Fabrício Carvalho voltou a jogar pelo Goiás. Ficou lá por duas temporadas. Depois, iniciou uma peregrinação pelo mundo da bola: Portuguesa de Desportos, Bragantino, Ferroviária, Oeste de Itápolis, Guaratinguetá, Araxá, Cabofriense, Itapirense e agora, Taboão da Serra.

Enquanto esteve longe da bola, Fabrício voltou para Andradina, onde mora, e criou uma ONG para cuidar de garotos carentes e dar educação via futebol. A entidade atende jogadores desde os nove aos 17 anos. ''Lá, nossa preocupação é a inserção social. Não estamos atrás de talentos'', garante.

Fabrício abriu também uma empresa, a FC9, que agencia jovens talentos para clubes do Brasil e do exterior. ''Eu comecei indicando atletas para clubes da Polônia, Irlanda, Tailândia e outros mercados. Eles me pediam atletas e eu mandava vídeo. Foi dando certo e hoje temos um trabalho mais estrutura, junto com o empresário Carlos Eduardo'', falou.

Fabrício fechou acordo com o próprio Taboão. Vai gerir a equipe da próxima Taça São Paulo. Ao mesmo tempo, está fechando uma parceria para montar estrutura de formação de atletas de alto rendimento em Itapecirica da Serra, perto de Tabõao da Serra. ''Estamos começando este trabalho. Vamos ver onde ele vai dar'', disse.

Em meio aos negócios, o atacante faz o que mais gosta. ''Jogo futebol. É muito bom. Hoje estou mais confiante. Mas fiquei muito abalado pelo que passei. Por isso, jogar é sempre uma alegria'', disse.