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Artilheiro no Irã, Edinho festeja título por 20 minutos. Depois, frustração

Luciano Borges

Edinho comemora gol e faz homenagem à esposa Flávia Foto: site oficial Tractorsazi

Edinho comemora gol e faz homenagem à esposa Flávia Foto: site oficial Tractorsazi

O atacante Éder Luciano, Edinho, foi campeão da Liga Profissional do Golfo Pérsico, por pouco mais de 20 minutos. Pelo menos era o que o brasileiro e todos jogadores, comissão técnico e torcedores do Tractorsazi pensaram, logo depois do empate em 3 a 3 contra o Naft Tehran,  diante de cerca de 100 mil fanáticos torcedores. Só que não.

Os dois times entraram na última rodada do torneio empatados com 27 pontos ganhos. O ''Red Wolves'', apelido da equipe de Tabriz, tinha melhor saldo de gols.

''A gente jogou muito bem até os 25 minutos do segundo tempo. Estávamos vencendo por 3 a 1, com um gol meu e duas assistências. Aí os caras empataram. Mas mesmo assim, a vantagem nos daria o título'', disse Edinho que se viu no meio de uma multidão da fãs logo que o juiz encerrou a partida.

Foi uma loucura. Desde sua fundação, 52 anos atrás, o Tractors nunca tinha sido campeão. O técnico português Antonio Oliveira chorou ao ser carregado nos braços da multidão. ''Você não tem ideia da idolatria lá. Nossas partidas tinham uma média de 60 mil espectadores por jogo'', contou o atleta nascido no Espírito Santos, que anda pelo mundo da bola desde os 16 anos de idade.

O problema é que Edinho, atletas, comissão técnica e torcedores foram enganados pelos dirigentes do Tractorsazi que, por sua vez, foram mal informados por um torcedor que estava em outra cidade, acompanhando a partida entre Sepahan e Saipa.

Ele informou que o confronto tinha terminado empatado (2 a 2). En Sazi, no vestiários, os diretores do Tractors acompanharam o jogo até os 42 minutos do segundo tempo. ''Aí aconteceu uma coisa bizarra: repentinamente, a tevê, o rádio e os telefones celulares pifaram e ficamos sem comunicação. Nosso enviado disse logo depois que o jogo tinha empatado'', disse Mansour Ghanbarzadeh, executivo de futebol do Tractors.

Foi ele quem deu a boa notícia e provocou a festa toda. E foi ele quem recebeu depois de 24 minutos, a nova informação: o Sepahan venceu por 2 a 0. Como tinha 26 pontos, ele ultrapassou o Tractors e o Naft Tehran e ficou com o título.

 

Time no Irã comemora título sem ser campeão

Aí, foi preciso avisar todo mundo via sistema de som do estádios. Os jogadores fizeram cara de decepcionados, os dirigentes seguiram rápido para o vestiário, o treinador português – que comemorou o campeonato que não ganhou – entrou no túnel espumando de raiva.

O problema maior ficou mesmo para a torcida que passou a quebrar cadeiras, portas e outras instalações do estádio. Foi preciso que a polícia iraniana entrasse em ação e efetuasse cerca de 40 prisões.

''Bateu uma frustração muito grande. O vestiário parecia um velório. Poxa, faltou pouco. Mas acho que esse título não era para ser nosso. Se não, não tomaríamos os dois gols em 20 minutos'', disse Edinho, conformado.

Já em Vitória, no Espírito Santo, o artilheiro do campeonato iraniano com 20 gols, fez questão de separar o fracasso do time da boa performance que teve nesta temporada. ''Acabei de ler na internet que fui escolhido o melhor jogador da temporada e faço parte da seleção da Liga'', falou ao Blog do Boleiro todo orgulhoso. 

Ele é ídolo da torcida. Nas ruas de Tabriz é reconhecido, recebe pedidos para tirar fotos. ''Eles querem abraçar a gente, falam como loucos. São muito fanáticos'', contou o brasileiro que há 16 anos deixou o Brasil para jogar em Protugal (Gil Vicente), Coreia do Sul, Holanda, Itália, Bulgária, Emirados Árabes e Irã.

No país dos aiatolás, Edinho ficou cinco temporadas no Mes Kerman. O nome dele passou a ser cogitado para fazer parte da seleção iraniana. ''Eu topo me naturalizar e jogar pela seleção. Lá, o povo quer que eu seja convocado. Só o técnico que não quer'', disse referindo-se ao português Carlos Queiróz.

Este ano, o brasileiro se transferiu para o Tractor, mudou de posição e fez  o nome. Ele sempre foi meia armador, dono da camisa 10. Sob o comando de Antonio Oliveira,  passou a atuar de atacante na área. ''Agora que virei artilheiro não quero mais jogar em outra posição'', disse.

Aos 32 anos, Einho ainda tem lenha para queimar, mas o contrato com o Tractors acabou. ''Vou passar duas semanas com minha família e depois os meus empresários vão ver para onde vou jogar'', afirmou o pai de Angel, uma garota de dois anos de idade, e de Endry, que nasceu no Brasil há dois meses. Os dois filhos e a esposa Flávia acompanham Edinho onde ele for jogar.

Se puder, ele continua no Irã. ''É um país que aprendi a gostar. O povo é muito carinhoso comigo e com minha família, Lá me sinto mais seguro do que no Brasil. Aqui a coisa anda muito violenta. Lá você pode caminhar nas ruas com relógio, cordão de ouro, e ninguém mexe com você'', falou o atacante que já tem um prato favorito da culinária iraniana: o carneiro assado.