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Advogado de Pato: “Vai haver aumento geral de ações contra clubes”

Luciano Borges

João Chiminazzo, advogado de direito esportivo que representa Alexandre Pato Foto: Arquivo Pessoal

João Chiminazzo, advogado de direito esportivo que representa Alexandre Pato Foto: Arquivo Pessoal

Nesta terça-feira, Alexandre Pato entrou oficialmente com pedido na Justiça do Trabalho de desistência da ação que moveu contra Corinthians e São Paulo. Segundo o advogado, João Chiminazzo, o atacante conseguiu o que queria: recebeu R$ 4,3 milhões de salários atrasados. O casop deve ser arquivado na próxima semana.

“Está claro que, se não for pressionado, o clube não sai da zona de conforto dele e não paga o que deve”, disse o representante legal de Pato.

Em conversa com o Blog do Boleiro, o advogado revelou que tem sido sondado por outros atletas sobre a possibilidade de repetirem o que Pato fez. “Vai haver um aumento geral de ações contra clubes. Este caso do Pato abriu um precedente violento”, afirmou Chiminazzo que é especializado em direito esportivo do escritório Pereira Neto e Chiminazzo, de Campinas.

Blog do Boleiro – Por que vocês desistiram do pedido de rescisão do contrato? A decisão contra do primeiro juiz foi a razão?
João Chiminazzo – Porque ele conseguiu o maior objetivo que era receber dos clubes. Veja bem, muita gente disse que o Pato queria deixar o Corinthians e isso não é verdade. Quando o Pato me procurou ele disse que não aguentava mais. Ele disse: ‘Estou sem receber há 10 meses. Estou de saco cheio’. Eu examinei todo o cenário e disse que o caminho era esse: entrar na Justiça pedindo a rescisão do contrato. Tinha que pressionar o Corinthians. Se não for pressionado, o clube não sai da zona de conforto.

O dinheiro apareceu rápido.
Nós entramos com a ação no dia nove de junho. No dia 10, o Corinthians depositou os quatro milhões. No dia 12, o São Paulo pagou os 300 mil que devia. Hoje eu dou risada. O que ninguém conseguiu em 10 meses, consegui em três dias. Considero isso uma vitória e o Pato recebeu. Por isso entramos com o pedido de desistência. A intenção dele era receber.

O senhor tem sido sondado por outros atletas depois deste caso do Alexandre Pato?
Oficialmente não. Tenho recebido mensagens de jogadores do Corinthians e do São Paulo brincando com frases do tipo ‘estou vendo que para receber aqui, tenho que te contratar’. Acho que são mais sondagens. Mas hoje eu tenho mais de 300 processos contra clubes envolvendo desde roupeiros, até jogadores, treinadores. Os clubes têm esta política de prometer e não cumprir.

Você tem outras ações contra o Corinthians?
Hoje tenho uma ação do zagueiro Chicão, que trata de direito de arena e já vencemos em primeira instância. O Corinthians recorreu. O volante Jucilei pediu verbas contratuais como 13º salário, férias e outros direitos. O Corinthians alegou que não ganhou nada na transferência dele para o Anzhi e provamos que isso não era verdade. Também ganhamos em primeira instância e o Corinthians recorreu. O volante Marcelo Matos (que está saindo do Botafogo) já ganhou até a última instância uma ação que gira em torno de R$ 1,5 milhão. O goleiro Júlio César também entrou com ação por não ter recebido parte das luvas e do direito de arena. Contra o São Paulo, tenho ações dos zagueiros Xandão e Rodrigo (que está no Vasco da Gama).

É assim comum ‘levar chapéu’ dos clubes?
É. Veja o caso do Muricy Ramalho. Ele tentou receber do Santos. Conversou com os dirigentes, fez acordos e nenhum foi cumprido. Aí conseguimos bloquear o dinheiro na Federação que iria para o Santos. Eles apareceram rápido e ofereceram um acordo para pagar em dez vezes. A própria Federação Paulista começou retendo só uma parte do dinheiro num dia, e corrigindo no dia seguinte. Mas foi preciso a determinação do juiz.

O caso do Pato abriu as portas para mais ações?
Vai haver um aumento geral de ações contra clubes. O caso do Pato abriu um precedente violento. Colegas meus que trabalham em clubes dizem informalmente que ‘vocês ferrou a gente’. O temor dos clubes é que todo mundo siga a moda. Até porque ficou provado que as desculpas às vezes não são verdadeiras. O Corinthians dizia que estava quebrado, mas arrumou 4 milhões em 24 horas.

Mesmo assim, o Pato não conseguiu a rescisão do contrato.
É verdade. O juiz não deu a liberação. Mas ele está muito contente no São Paulo.

Afinal, o São Paulo sabia da intenção do Pato e, de alguma forma, apoiou a decisão de entrar com a ação?
Sei que teve gente que disse que o Pato e o São Paulo teriam feito em comum acordo porque a saída do jogador do Corinthians tornaria mais fácil para o São Paulo contratar. Posso garantir que o São Paulo só soube quando foi informado pela Justiça.

Ele não ficou sem ambiente num time em que joga e contra quem moveu uma ação?
Eu estive no CT da Barra Funda nesta terça-feira. Conversei com o Alexandre. E pude ver que o clima com ele está muito bom. Até porque ele é um cara muito bacana. Todo mundo gosta dele.