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Vídeos, reuniões, livros, broncas. Como Tite arma o Corinthians para o jogo

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Vídeos detalhados usando um aplicativo de celulares. Livros para despertar o interesse por técnicos e seus métodos de treino. Tratamento igual para titulares, reservas, experiente e novatos. Revezamento nas broncas. Treinos dirigidos de bola parada. Estas são algumas ações que o técnico Tite e a comissão técnica do Corinthians exercem no dia a dia do time. O planejamento inclui outras áreas como o departamento médico, fisiologia, nutrição, preparação física e outras. O Blog do Boleiro conta apenas como o time é preparado para encarar adversários tática e tecnicamente.

Este pensamento estratégico ajuda a entender por que o Corinthians é líder do Campeonato Brasileiro com 60 pontos, 18 vitórias, seis empates e apenas quatro derrotas em 28 partidas. A equipe dirigida por Tite é dona do segundo melhor ataque com 48 gols e o maior saldo (26) entre os 20 participantes do torneio. Marcelo Oliveira, treinador do Palmeiras, disse ao Blog do Boleiro que a equipe corintiana é ''muito consistente, com um sistema de marcação eficiente e ataque mortífero''.

REUNIÃO DE PLANEJAMENTO

Sexta-feira, dois dias antes de uma partida , Tite reúne a comissão técnica para definir o plano de jogo do time. O analista de desempenho Fernando Lázaro (filho do ex-jogador Zé Maria) apresenta os vídeos com detalhes sobre a forma de atuar do adversário: estrutura tática, jogadas em cobranças de faltas e escanteio, sistema de marcação e outros detalhes.

A partir desta conversa, o assistente técnico Cléber Xavier sabe o que vai orientar o pessoal do meio para a frente do Corinthians. A parte ofensiva fica a cargo dele no treino da tarde. Fábio Carille cuida da defesa e da marcação.

Os dois auxiliares de Tite são observados pelo treinador. O trabalho é combinado e dividido. Depois do treino tático e coletivo, o técnico investe nas jogadas de bola parada. Com base nos vídeos apresentados, ele posiciona os jogadores na defesa e depois cria variações no ataque.

No treinamentos de sábado, as jogadas em bolas paradas ganham reforço.

IMAGENS NO WHATSAPP

O grupo de Fernando conta ainda com mais cinco integrantes. Eles são hoje a equipe mais importante na estratégia de jogo do líder do Campeonato Brasileiro. Eles separam os setores e jogadores do adversário.

Exemplo: eles acompanham jogadas de mais de três partidas com o setor esquerdo do inimigo. Depois, editam um vídeo de até três minutos. Enviam por WhatsApp para o lateral direito Fágner que poderá ver e rever como são os caras que vão cair no setor dele.

O novo aplicativo é mais eficiente. Assistir DVD obriga o atleta a achar um lugar calmo com aparelho. Agora, ele pode estudar onde estiver, via telefone celular.

A própria comissão técnica tem um grupo no WhatsApp. Nele, os integrantes trocam informações e lembretes. Se Tite vê algo diferente na televisão, ele pode avisar um dos seus comandados.

GRUPO COMPROMETIDO

Um sintoma de que o elenco do Corinthians é comprometido com o trabalho é a seriedade como utilizam as imagens que recebem. Alguns atletas se antecipam e vão pedir os vídeos editados antes mesmo da comissão técnica distribuir na rede.

O lateral esquerdo Fábio Santos, hoje no Cruz Azul do México, era um destes interessados. ''É um instrumento de trabalho muito bom. Você fica sabendo como o lateral adversário faz quando sobe. Se ele entra na diagonal, se triangular ou mesmo o que faz quando vai cruzar'', disse ao Blog do Boleiro.

Este comportamento mostra como os jogadores dão importância para esta prática. O principal é que nos jogos, o que eles estudaram aconteceu em campo.

A importância de Tite nesta postura dos atletas é grande. Ele dá tratamento igual para titulares e reservas. Comanda os treinos e orienta quem não jogou como se estivesse com a equipe principal.

Cuida com atenção dos jovens alçados da base. O técnico corintiano chegou a ser criticado porque não subia os garotos. Na verdade, ele tenta não queimar talentos. Por isso, coloca com cuidado na equipe de cima.

RECADO EM TRÊS FORMAS

Tite acha que há três tipos de jogadores: aquele que entende o que ele quer taticamente numa conversa, outro que capta melhor com o vídeo e o terceiro, que aprende mais no treino em campo. Por isso, cada orientação que ele considera importante é passada das três maneiras. “Assim todo mundo entende pelo menos de um jeito”, disse ao Blog do Boleiro.

Ele também tenta estimular a inteligência tática dos comandados. Recentemente, Tite escreveu o prefácio da edição brasileira do livro “Campeões: Por Dentro Da Mente Dos Grandes Líderes do Futebol”, de Mike Carsons. Os jogadores corintianos ganharam um exemplar cada um.

QUEM FALA

É Tite quem dá a preleção principal do jogo. O técnico também faz a conversa inicial da semana, quando não há confrontos nas quartas ou quintas-feiras. Mas há um revezamento entre o técnico e Cléber Xavier. Algumas broncas ou cobranças mais duras são feitas pelo assistente técnico.

Assim Tite não desgasta a imagem com o time.

O técnico mudou o estilo das preleções. Ainda é empolgado quando fala, mas maneira nos gestos físicos.

Em 2006, quando dirigiu o Palmeiras, ele assustou um diretor de futebol que acompanhou a reunião antes do jogo. Tite falava cara a cara com cada atleta, batia no peito deles, ficava inflamado a ponto de despertar no italiano católico a desconfiança de que o treinador era “macumbeiro”. E isso ajudou na demissão.

VERTICAL

O time do Juventus enfrentou a equipe Sub-20 do Corinthians e, depois, o time corintiano dos reservas e de quem não tinha enfrentado o Sport Recife. O técnico juventino, o jovem Rodrigo Santana, 33, orientou a equipe nos dois jogos-treino e também foi ao estádio ver a partida do Sport. Ele observou que, nos três confrontos, os corintianos jogaram com o mesmo esquema tático.

“Tanto o Sub-20, como o time titular e o dos reservas jogaram no 4-1-4-1. Isso ajuda muito a facilitar a vida do atleta que entra na equipe de cima”, disse.

Tite, porém, não é adepto desta verticalização como princípio. Ele acha que o Sub-20 e a base deve respeitar as características de cada jogador para se criar um sistema de jogo que tire dele o melhor. Hoje, por um acaso, é possível manter o Sub-20 atuando como o time principal.

O técnico conversa muito com Osmar Loss, técnico do Sub-20, na tentativa de obter informações e trocar experiência para a hora que ele decidir aproveitar um jovem talento.

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