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Governo de SP estuda criação de Juizado do Torcedor “turbinado”
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Luciano Borges

Paulo Castilho, 47, foi jogador profissional e combate a violência há nove anos Crédito - Blog do Boleiro

Paulo Castilho, 47, foi jogador profissional e combate a violência há nove anos
Crédito – Blog do Boleiro

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre Moraes, tem em mãos uma proposta para formalizar a criação do Juizado do Torcedor que tenha representantes do Judiciário, do Ministério Público e das polícias Militar e Civil.

Na última quinta-feira, em reunião na Secretaria, Moraes ouviu dos promotores públicos Paulo Castilho (JECrim), Roberto Senise (Consumidor) e do juiz Ulisses Augusto Pascolati que somente uma  estrutura articulada com o comando institucional do Estado poderá combater com eficácia a violência das torcidas de futebol.

“Este assunto se tornou uma questão de Estado”, disse Castilho ao Blog do Boleiro. “Este Juizado terá como apurar, afastar, punir e prender os torcedores que provocam conflitos dentro e fora dos estádios. Eles serão tratados criminalmente. E será possível ter o controle do acessos nos estádios e também, o que é importante, o controle da venda dos ingressos”, completou.

Este último item tem um motivo: embora digam que não ajudam as uniformizadas, os dirigentes dos clubes grandes destinam boa parte dos ingressos vendidos – em jogos como visitantes – para estas torcidas.

Na verdade, a criação do Juizado do Torcedor já é prevista em lei. Mas ele nunca funcionou de maneira eficiente porque não centraliza os diversos casos de brigas, conflitos e mortes. “Hoje, estes casos são distribuídos em 31 varas que tem 62 juízes e 124 promotores. Se não concentrarmos em um lugar só, acaba se perdendo eficiência na punição”, justificou Castilho.

O promotor Paulo Castilho cuida da violência no futebol há nove anos. Ele faz parte do Juizado Especial Criminal e já elaborou propostas para se diminuir os conflitos nas arenas e fora delas. É um dos pais da proibição da venda de bebidas alcoólicas e do cadastro de torcedores que hoje é feito pela Federação Paulista de Futebol. Mas ele mesmo admite: estas medidas estão longe de atacar o problema que é, para ele, uma “questão de Estado”.

Blog do Boleiro – Por que este Juizado do Torcedor,  com polícias, juízes e promotores integrados, pode funcionar melhor do que já temos?
Paulo Castilho – Com um juizado especializado, teremos um juiz que sabe, por exemplo, que uma briga de torcida é orquestrada dias antes, não é um fato isolado. Ele vai relacionar a morte em uma rodovia à briga que começou no estádio. E a polícia precisa realizar um serviço de inteligência, com escutas telefônicas, para descobrir quem está levando drogas e armas aos estádios, quem está tramando explodir uma bomba, como se articulam as torcidas violentas.

“AS ORGANIZADAS DEVEM SER TRATADAS COMO ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS”

As torcidas organizadas estão aí há muito tempo. Como elas devem ser tratadas?
Na Alemanha, elas são tratadas como organizações criminosas. E é assim que devemos tratar estas torcidas. Lá como aqui, as uniformizadas se tornam organizadas e se desvirtuaram. Virou uma relação perniciosa porque elas têm integrantes que não são gente boa, nem honestos. A torcida organizada depreda, mata, agride e lincha. O Estado tem que entrar com uma estrutura para proibir e trabalhar em cima destas torcidas como organizações criminosas.

Isso vale para todas?

Vale para quem quiser receber este tratamento. Hoje, algumas uniformizadas não dão o menor trabalho. É o caso da Dragões da Real (São Paulo), da TUP (Palmeiras) e da Sangue Jovem (Santos). Estes torcedores organizados precisam repensar o que querem. Se uma pessoa vai ao jogo e, no caminho para o estádio, agride um torcedor adversário, quebra orelhões na rua, o que a PM vai fazer com ela? Prender e autuar. Aí pergunto: por que não se faz o mesmo com 500 torcedores organizados?

No primeiro jogo entre Corinthians e São Paulo, pela Libertadores, na semana passada, a PM escoltou a torcida do São Paulo.
É isso. A Polícia Militar não pode gastar dinheiro do povo para escoltar torcida. Não é possível se fazer uma operação de guerra para que uma uniformizada não sofra emboscada e nem agrida ninguém. O cavalo está em cima do jóquei.

“NO ALLIANZ PARQUE NÃO DÁ PARA TER TORCIDA VISITANTE”

O senhor e o promotor Roberto Senise tentaram fazer do clássico entre Palmeiras e Corinthinas num jogo de uma só torcida, a do mandante. No final, entraram 1.800 corintianos. Vocês perderam a quebra de braço?
De maneira alguma. Nós temíamos, pelo histórico recente de conflitos entre corintianos e palmeirenses, que houvesse novo episódio de violência. No final, a Polícia Militar entrou em conflito com torcedores do Palmeiras na porta do estádio. Durante o jogo, organizadas do Corinthians brigaram entre elas numa disputa de espaço. E ainda quebraram cadeiras do setor onde ficaram. No Allianz Parque não dá para ter torcida visitante.

Por que?
A arena não tem uma entrada independente para torcida organizada adversária. A entrada prevista para os ônibus dos times fica na Rua Turiassu onde estão uma sede de uniformizada e vários bares lotados de torcedores do Palmeiras. Além disso, não há uma proteção de acrílico de, digamos, um metro de altura, para servir como barreira.

Mas no jogo entre Corinthians e São Paulo, no Itaquerão, tivemos poucas ocorrências.
De uma maneira geral sim. Sabe por quê? A ameaça de clássicos como uma torcida só pesa. Eles estão pensando duas vezes. Mesmo assim, 30 torcedores da Estopim da Fiel de Campinas foram detidos e autuados por porte de armas dentro do ônibus.

No conflito com a PM, os palmeirenses atiraram garrafas de cerveja nos policiais. Ou seja, não se pode consumir bebidas alcoólicas dentro do estádio, mas fora…
É verdade que no entorno dos estádios o torcedor encontra pinga, conhaque e até drogas para consumir. O ideal seria combater este comércio fora do estádios. É possível a venda de cerveja dentro das arenas, antes, no intervalo e depois dos jogos. Hoje, a despesa de uma partida está com os clubes e a receita fica com os bares e os ambulantes. Os clubes poderiam faturar mais. Mas é preciso coibir a venda fora.

Voltando à reunião com o secretário Alexandre Moraes, ele gostou da ideia proposta por vocês?
Ele se mostrou animado e ficou de levar a ideia adiante. O doutor Alexandre é um dos maiores constitucionalistas do país. Ele está chegando agora na secretaria e mostrou vontade de nos ajudar.

Há um prazo determinado para que este Juizado seja criado?
Não há, mas o tempo corre contra a gente. Do jeito que é hoje, estamos enxugando gelo. O Juizado do Torcedor tem que ser posto em prática ontem. Estou nesta luta há nove anos. Eu vou vencer esta batalha. Mas se não der, eu desisto. Estou cansado.

 
 

 

 

 

 

 

 


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