“Brilho de Neymar não pode inibir jogadores da seleção”, diz Jairzinho
Luciano Borges
Jairzinho, 70, está pronto para realizar a missão que recebeu da CBF quando foi escolhido como ''auxiliar pontual'' do técnico Dunga. No próximo dia 21, ele embarca para Paris junto com os atletas convocados para os amistosos contra a França (dia 26) e Chile (29, em Londres). ''O que vou dizer aos jogadores é que eles não podem se sentir cerceados pela presença de Neymar. A seleção do Brasil não pode ter a dependência de uma estrela só. É importante que o espírito coletivo estimule outros jogadores a brilharem'', disse ao Blog do Boleiro.
Único jogador a marcar gols em todas as partidas de uma Copa do Mundo, Jair Ventura Filho tem experiência para mostrar aos atletas como uma equipe pode atuar coletivamente e ter mais do que um protagonista em campo. Em 1970, no Mundial do México, o time do Brasil tinha Pelé. Mas, segundo Jairzinho, foi a postura coletiva que permitiu outros grandes jogadores aparecerem individualmente.
''Nós não deixamos só o Pelé jogar. Eu protegia o Rivellino, Tostão, Gérson e o próprio Pelé. O Riva fazia o mesmo comigo e com outros. Assim, todo mundo pode brilhar porque o espírito de equipe ajudou. Mas é preciso também querer brilhar e não deixar que apenas um jogador resolva tudo'', afirmou.
No grupo atual da seleção brasileira, Jair aponta o meia Willian com potencial para se tornar uma destas estrelas. ''Ele tem muita técnica, é habilidoso'', atesta. ''Mas há outros: Tardelli e Oscar também têm potencial para se tornarem grandes nomes do futebol'', completou.
Desde que assumiu a coordenação da seleção na CBF, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi veio com a ideia de aproximar jogadores com experiência e títulos conquistados pela seleção para passarem experiência e mensagens ao grupo, considerado jovem. Além disso, vários atletas passaram pelo trauma das derrotas para a Alemanha e Holanda, na Copa do Mundo do anos passado no Brasil.
O tetra campeão Mauro Silva foi o primeiro. Ele teve a missão de – em duas viagens e quatro amistosos – mostrar a importância de vestir a amarelinha, de como o time de 1994, nos Estados Unidos, ganhou porque ficou focado durante a preparação e a disputa da Copa do Mundo. Depois, o ponta-esquerda Edu, campeão mundial de 70 e jogador mais jovem a disputar o torneio pela seleção brasileira, levou outra mensagem: o valor da ousadia, da aposta no drible e no talento individual a serviço da equipe. O zagueiro Oscar, líder da seleção que disputou os mundiais da Argentina e Espanha, falou muito sobre responsabilidade.
Jairzinho vai contar ao grupo que nem ele esperava se sair tão bem no México em 1970. ''Nunca imaginei que marcaria sete gols deixando minha marca em todas as partidas. Acho que eu estava em uma grande forma física e técnica. Como jogamos coletivamente, com liberdade, eu acabei beneficiado. Também joguei ao lado de craques como Tostão, Gérson e Rivellino''.
Craque do Botafogo carioca nos anos 60, o ex-jogador vai lembrar também que esta geração terá que recuperar a imagem e auto-estima da seleção brasileira. ''Neymar é craque, mas não pode haver a dependência'', reforçou.
Hoje, Jairzinho dá aulas em uma escolinha de futebol em Manguinhos, no Rio de Janeiro, além de manter o projeto Fábrica de Talentos Furacão de 70. Ele se orgulha de dizer que descobriu Ronaldo, o Fenômeno, e também o zagueiro Válçber. ''Os dois eram craques'', lembra.