Líder do Bom Senso diz que FairPlay da CBF é “história para boi dormir”
Luciano Borges
O zagueiro Paulo André, do Cruzeiro, criticou duramente a regra do ''FairPlay'' financeiro adotada pela CBF, já valendo para o Campeonato Brasileiro das Séries A, B e C de 2015. Fundador e líder do Bom Senso FC, ele definiu a regra – chamada pelos clubes de ''FairPlay trabalhista – como ''uma da maiores enrolações da história do futebol brasileiro''.
''É uma historinha para boi dormir e segue o jogo. É mais uma decisão política da CBF para não desagradar os 47 membros (clubes e federações) do colégio eleitoral. Para continuar tudo do jeito que está.'', disse em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Paulo André acha que esta regra, copiada do modelo utilizado no futebol paulista há três temporadas, aponta para um retrocesso. ''Fica um pouco complicado acreditar que esta nova gestão que assume em abril será uma gestão moderna, uma gestão que fará uma transição na renovação da entidade'', afirmou.
Ele se refere a Marco Polo Del Nero, futuro presidente da Confederação e ainda comandante nominal da Federação Paulista. O dirigente adotou o ''FairPlay '' em São Paulo e levou o modelo para a CBF numa tentativa de esvaziar o texto da MP do refinanciamento das dívidas dos clubes de futebol, emitida na semana passada pelo governo federal. Ela já está em vigor e o Congresso ainda vai votar o texto final num prazo de 120 dias.
Na regra da CBF um clube que atrasar salários dos jogadores poderá ser punido com perda de três pontos de cada partida disputada durante o período em que ele não quita os débitos. Para isso, é preciso que um ou mais atletas denunciem. Eles podem notificar o STJD individualmente, ou através de advogado ou mesmo sindicato. O caso será julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
Esta medida foi anunciada há cerca de 20 dias, quando o Bom Senso FC ainda discutia o tema com a CBF e os clubes. Por isso, Paulo André se mostrou irritado com a decisão unilateral. ''A gente esteve com a CBF nos últimos meses, apontou para eles as dificuldades e os defeitos deste tipo de ''FairPlay'' que é praticado no futebol de São Paulo nos últimos os três anos. Infelizmente, eles não acrescentaram uma vírgula de tudo o que sugerimos, tudo que questionamos. É uma perda irrecuperável de tempo'', falou.
Um dos pontos discutidos entre Bom Senso, clubes e a Confederação é o pagamento atrasado dos direitos de imagem. Hoje, o maior componente dos vencimentos de um atleta está na cessão destes direitos. Ele abre uma empresa de publicidade e assina contrato com a agremiação. No ''FairPlay '' da CBF, este item não entra. ''O que agrava mais é a exclusão do direito de imagem. dentro deste regulamento. A maioria dos clubes paga ainda os direitos de imagem como grande parte do salário. E o atraso do direito de imagem não pode ser denunciado''.
Do jeito que está no regulamento da disputa do Campeonato Brasileiro, o ''FairPlay'' da CBF está fadado ao fracasso, garante o líder dos atletas.
''É impossível isso dar certo. A gente está tentando correr contra o tempo para levantar números, mas o que posso dizer já é que menos de dez por cento dos casos de inadimplência no futebol paulista nos últimos três anos foram denunciados. A Federação, o Sindicato (dos Atletas) e outros que criaram este regulamento comemoram o fato de que das 4 denúncias – apenas quatro – que foram feitas terem sido pagas. Os clubes pagaram e não perderam pontos. Mas a gente tem números de que mais de 40 clubes estavam inadimplentes durante estes três anos de competição e não perderam pontos'', argumentou Paulo André ao Blog do Boleiro.
''Este modelo não obteve sucesso. Por que ele teria sucesso em âmbito nacional? Por que repetiríamos algo que não deu certo?'', perguntou o zagueiro cruzeirense.
Paulo André aponta um outro problema: é mais difícil para um atleta das Séries A, B e C denunciaram o clube mau pagador.
''Um agravante é que clubes da Série A, B e C costumam fazer contratos mais longos do que os clubes de campeonatos estaduais. Normalmente, os clubes estaduais fazem contratos de três meses e o atleta já sem vínculo teria chances de denunciar o clube, coisa que não aconteceu. Agora imagina um jogador de time da Série A,B ou C que tem contrato de dois, três, quatro anos com o clube e o no meio deste contrato ainda sem a condição de liberação, que é o terceiro mês de salário atrasado, ele tem que denunciar o clube. Como fica o convívio dele diário lá dentro?''
No pacote, nesta situação, fica completo com o risco de que os clubes marginalizem o jogador que denuncia. ''Ele não pode ser liberado, não vai estar livre para trabalhar em outro lugar. A gente sabe que a retaliação e o corporativismo são gigantescos dentro do futebol'', argumentou.