Violência: promotor quer proibição de venda de ingressos para uniformizadas
Luciano Borges
A edição de uma resolução da Federação Paulista de Futebol, proibindo 1) a entrega de ingressos dos jogos para as torcidas organizadas; 2) proibição de camisas, faixas, bandeiras e outros símbolos que não sejam os oficiais dos times envolvidos na partida e 3) determinando um espaço de apenas 500 lugares para torcida uniformizada como já está previsto desde 2006 num acordo entre a FPF e o Ministério Público. Esta é uma das medidas propostas pelo promotor público Paulo Castilho, do Jecrim (Juizado Especial Criminal), num documento que já foi entregue à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Embora digam publicamente que não tem relações formais com as organizadas, os clubes grandes de São Paulo ainda liberam ingressos comprados em lotes para que estas torcida frequentem os estádios num mesmo setor. Proibir a venda de entradas é uma maneira de desarticular os uniformizados.
Na próxima sexta-feira, às 10 horas da manhã, o secretario Alexandre de Moraes vai comandar uma reunião com dirigentes de clubes, representantes das polícias militar e civil, do Ministério Público e da FPF para decidir o que fazer no combate à violência no futebol paulista.
O encontro não é mais para discutir o tema, mas sim deliberar sobre o que deve ser feito. Moraes tem conversado com outras esferas do governo estadual, incluindo o próprio governador Geraldo Alckmin. Na semana passada, o deputado estadual Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa, se colocou a favor das medidas propostas pelo MP.
Os participantes do encontro de sexta-feira terão até um dia antes para enviarem as sugestões do que acreditam que deva ser feito para, principalmente, conter a disposição bélica das torcidas uniformizadas.
Na lista de Castilho está o que ele considera o passo mais importante para atacar o problema: a criação de um Juizado do Torcedor na Capital que tenha um juiz de direito especializado em violência no futebol.
Além disso, um promotor de justiça ficará dedicado exclusivamente ao tema, trabalhando em contato com as polícias civil e militar, clubes e Federação Paulista de Futebol e CBF. Como apoio, a instalação de uma Delegacia Especializada que possa instaurar inquéritos policiais, identificar e monitorar líderes de torcidas organizadas. Ela terá poder de acompanhar as movimentações financeiras de presidentes e diretores.
Nos nove itens que compõem o documento, um deles é o da torcida única em clássicos. Desta vez, Paulo Castilho aponta uma alternativa: fãs do time visitante poderiam entrar se for criada uma ''zona mista ou neutra'' de torcida, misturando torcedores ''devidamente cadastrados, identificados e monitorados'', dando prioridade aos sócios-torcedores.
Outra medida sugerida por Castilho é edição de uma lei municipal proibindo a venda de bebidas alcoólicas ao redor dos estádios de futebol em dias de jogos até duas horas depois do final das partidas. A multa prevista para quem não obedecer seria de R$ 50 mil e perda de alvará de funcionamento do estabelecimento.
Por outro lado, o MP pede a volta da venda de cerveja dentro das arenas antes, no intervalo e depois das partidas. Fora destes três momentos, quem vender poderá ser multado em R$ 100 mil mais perda de alvará. E ot torcedor que exagerar e arrumar confusão terá que passar por teste de bafômetro e poderá ser autuado.
Paulo Castilho acha que estas sugestões darão resultado se foram adotadas. ''Até o fim do ano, será possível ter o domínio da situação. É mais fácil do que se imagina. Dá para vencer esta batalha'', disse ao Blog do Boleiro.
Na semana passada, no Fórum de São Paulo, Castilho foi procurado por advogados da Gaviões da Fiel (Corinthians) e Mancha Alviverde (Palmeiras) que se mostraram preocupados com o cerco que está se fechando em torno destas uniformizadas. Na última quarta-feira, dia 18, a Justiça de São Paulo aceitou a denúncia de homicídio duplo qualificado, por motivo torpe, e por formação de quadrilha de 25 integrantes das duas torcidas, 14 gaviões e 11 manchas.
Eles vão responder o processo em liberdade. Mas oito deles, incluindo o atual e dois ex-presidentes da Gaviões estão proibidos de ir aos jogos do Corinthians. Nos dias de partidas, eles precisam se apresentar duas horas antes no Segundo Batalhão de Coque da PM, só saindo de lá duas horas depois do final da peleja. Quem desobedecer terá a prisão preventiva decretada. ''Eu disse aos advogados que está é a ponta do iceberg. Vem mais coisa por aí'', falou Paulo Castilho.