Com dólar em alta, empresários apostam em êxodo de jogadores para exterior
Luciano Borges
A desvalorização do real diante do dólar vai provocar uma saída de talentos do futebol brasileiro na próxima janela da Europa, que vai de 1 de julho a 31 de agosto. Esta é a aposta de empresários da bola como o gaúcho Jorge Machado. ''Depois de duas janelas meio frias, as coisas vão acontecer. Com o dólar a três reais, a tendência é a do mercado voltar a ser o que era há sete anos'', disse ao Blog do Boleiro.
Segundo Machado, o interesse de clubes europeus cresceu na medida em que o real vem sendo desvalorizado. ''Hoje, tenho sondagens de equipes da França, Itália e outros países que não falam em vir aqui para observar. Ele querem comprar. Até equipes do México andam interessadas depois do bom desempenho de Rafael Sóbis'', afirmou referindo-se ao jogador que ele empresaria e está no Tigres.
Jorge Machado cuida da carreira de quatro jovens promissores: Gérson (meia do Fluminense, 17 anos), Yuri Mamute (atacante do Grêmio, 19 anos), Carlos (atacante do Atlético Mineiro, 19 anos) e Clayton (atacante do Figueirense, 19 anos). ''Dei sorte. Todos estão cotados lá fora'', comemora.
Em julho do ano passado, um dólar valia R$ 2,20. Na última sexta-feira, cerca de oito meses depois, o dólar comercial atingiu a cotação de R$ 3,24 para venda.Na economia, esta valorização do dólar ajuda quem exporta para fora do Brasil. Vale para a indústria e vale para o futebol.
''O impacto vai ser grande . Para os clubes e para os jogadores, uma oferta internacional passa a ser interessante'', atirou Marcelo Robalinho, da Think Ball & Sports Consulting Sports, empresa que cuida da carreira de Jadson, que recusou uma proposta da China para continuar no Corinthians.
No próximo mês, Robalinho espera pela vinda de representantes de um clube francês. ''Eles virão para observar e talvez realizar negócios'', disse ao Blog do Boleiro. Ele explica que, embora os clubes da zona do euro não utilizem o dólar para pagar salários, eles utilizam dólares na compra dos direitos, dependendo do que for exigido pelo vendedor.
Num vídeo gravado pela assessoria de imprensa e distribuído em português com legendas em inglês, para consumo da mídia europeia, o empresário mandou o recado: ''Para os clubes do exterior, o valor das negociações permanece o mesmo. Se ele estava disposto a gastar 100 mil dólares de salário, vai continuar gastando esta quantia. Mas para o atleta, esta proposta vai de 100 para mais de 300 mil reais'', estimou. Na última janela, clubes chineses e do mundo árabe já mostram disposição em contratar brasileiros.
Este raciocínio serve também para os clubes vendedores. Em crise, com dificuldade para pagar salários, as agremiações como Corinthians, São Paulo, Grêmio, Internacional e Atlético Mineiro sempre apostaram na exportação de garotos revelados na base para equilibrar os orçamentos.
Hoje, eles pagam altos salários, estão em dificuldade para não atrasarem os pagamentos e precisam realizar negócios. O dinheiro de fora, valorizado, pode ajudar.''Os clubes estão quebrados, com o pires na mão'', falou Machado.
Esta situação deve inclusive dificultar o repatriamento de jogadores brasileiros que estão em clubes europeus mais estruturados. O Palmeiras conseguiu atrair o lateral-esquerdo Egídio, bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro, que cansou dos atrasos de salário do Dnipro (Ucrânia) e rescindiu contrato. O jogador veio de graça. Mas esta é, segundo os empresários, uma exceção que foge à regra.
''A repatriação de jogador que está bem na Europa é impossível'', cravou Robalinho. ''Hoje, os clubes europeus tentam primeiro encaixar no próprio continente o jogador brasileiro que não está bem. Se não consegue, aí busca o mercado brasileiro para que o atleta tenha mais tempo de jogo e possa retornar mais valorizado'', explicou.
Mas há quem discorde desta previsão de ''novo êxodo'' do pé de obra do futebol brasileiro. Wagner Ribeiro, empresário de Neymar e Lucas, que administra a carreira de Gabriel (Gabigol) do Santos, acha que o futuro imediato ''será ruim para todos: jogadores, clubes e empresários''.
''Os salários dos jogadores serão achatados e as negociações serão feitas por valores menores de reais'', disse argumentando que o real fraco fará com que as ofertas em moeda estrangeira abaixem. Ao contrário da expectativa de Robalinho, Wágner acha que o clube disposto a pagar US$ 100 mil de salário, agora pode oferecer U$ 75 mil e ainda assim fará uma oferta atraente.
Isso não impede, no caso de Wágner Ribeiro, de achar que pode continuar realizando bons negócios ainda este ano. ''Em janeiro, o Wolfsburg ofereceu R$ 35 milhões pelo Gabriel. Se ele continuar bem em campo, pode sair por até 90 milhões'', afirmou ao Blog do Boleiro.
Gabigol é um dos poucos talentos, ao lado de Gérson do Fluminense, que servem, de argumento para Reinaldo Pitta ser cauteloso sobre a perspectiva de negócios. ''Além da variação da moeda, há um outro ponto: para exportar é preciso ter produto e não temos muitos aqui no Brasil hoje em dia'', disse. ''Nem tudo é Ronaldo, que com uma perna só se paga e dá retorno'', falou referindo-se ao Fenômeno de quem foi empresário.
Sem ser responsável pelo jovem meia do Fluminense, Pitta revelou que o Fluminense já recusou uma proposta da Europa de 10 milhões de euros. Ele acha que, para os poucos talentos que estão despontando no Brasil, poderá haver mercado lá fora. ''Temos negócios para realizar pela frente'', disse.