Líder do Brasileiro, Eduardo Baptista diz que Sport não é cavalo paraguaio
Luciano Borges
Salário em dia, estrutura moderna, mesmo treinador há duas temporadas. Estes são alguns dos ingredientes que fazem do Sport de Recife o líder atual da Séria A do Campeonato Brasileiro. Quem diz isso é o técnico Eduardo Baptista, 43, que está no comando do time pernambucano desde o ano passado. Em entrevista ao Blog do Boleiro, ele admite que chegou a sofrer pressão no início de 2015, depois da Copa do Nordeste e do Pernambucano. “Tem que ter um sanguezinho de barata para aguentar essa pressão”, disse.
Filho do técnico Nelsinho Baptista, que está no Japão e comanda o Vissel Kobe, Eduardo foi jogador. Como zagueiro do Juventus, chegou a ser campeão da Copa São Paulo (1985). Como tinha um gêmio forte, andou expulso em algumas partida e o próprio Nelsinho o aconselhou a trabalhar em outra atividade no futebol.
Ele se tornou então preparador físico e, em 2002, foi trabalhar com o pai no Goiás. Os dois passaram quase dez anos juntos. Foi para o Sport em 2012, depois de passagem pelo Japão. No time pernambucano, assumiu o cargo de treinador em janeiro de 2014. No ano passado, o Leão terminou em 10º lugar na Série A do Brasileiro.
Agora, depois de oito rodadas, o Sport é líder com 18 pontos, cinco vitórias e três empates. Eduardo Baptista acumula 101 jogos no comando do time e acha que não está dirigindo um “cavalo paraguaio” e revela que está atento para evitar o êxodo de jovens talentos para o exterior.
Blog do Boleiro – O Sport líder da Série A. É uma surpresa?
Eduardo Baptista – Quem diria no começo do Campeonato Brasileiro que o Sport iria estar em primeiro na oitava rodada? Tenho uma política de dizer que se nós ganharmos da Chapecoense (sábado que vem, em Chapecó) vamos continuar líderes. Isso é jogo a jogo. O importante é o time marcar bem, ter personalidade para jogar.
E ser uma equipe entrosada? Porque o Maikon Leite disse aqui no Blog do Boleiro que entrou num time montado e isso facilitou para ele.
Veja o André. Ele veio do Atlético Mineiro, já tinha jogado 15 minutos contra o Joinville e estreou entre os titulares contra o Vasco da Gama. Ele fez um gol e ia marcado outro, antológico. Eu estou aqui há um ano e meio. Temos um padrão de jogo bem definido. Isso facilita bastante. E contratamos com muito critério.
Como é esta política de contratação?
Não podemos contratar de baciada. Temos duas ou três balas na agulha para gastar e não podemos errar. Faltava um jogador de saída rápida, direta, fazendo o facão lá na frente. Esse cara é o Maikon Leite. Perdemos o Joeliton para o Hoffenheim. Chamamos o André porque acreditamos que ele vai suprir o papel do homem de área, definidor. Temos que ser criteriosos. Não podemos errar.
Quem decide estas contratações?
Temos o Nei Pandolfo (ex- gerente de futebol do Santos), o Pedro Gama (era analista de desempenho do Sport), Daniel Paulista (ex-jogador) e o Tiago Duarte (vindo do Grêmio). Junto comigo, a gente analisa o que vai fazer, como contratar, quem trazer.
Vocês têm elenco para aguentar todo o Campeonato Brasileiro?
Então, se você lembrar, no ano passado, chegamos a estar no G4. Mas no meio da tabela, tivemos oito jogadores contundidos e passamos quatro semanas sem ganhar. Fomos parar e ficamos no meio da tabela. Não temos hoje elenco de sobra. É preciso ter muito cuidado. Não podemos deixar de fugir ao controle de contusões, cartões, jogadores assediados pelo mercado exterior.
Só os times de fora?
Estamos tratando de cada atleta como filho único. Até a sétima rodada do Brasileiro, a gente rezou de pés juntos para que todo mundo completasse a sétima partida. Isso aconteceu e ninguém vai sair para outro clube da Série A. Agora vem o interesse do mercado exterior, a janela vai até agosto. Já ouvimos rumores e nesse mercado, onde há fumaça, há fogo.
Quais atletas têm sido alvo deste interesse?
O volante Rithely e o lateral Renê já tem os nomes especulados. Estamos de olho e, se acontecer, precisamos repor rapidamente.
O que o Sport tem de bom que atraiu e segurou Diego Souza, além de conseguir reforços vindos de times grandes como Palmeiras e Atlético Mineiro?
Até hoje ainda existe um certo preconceito com o Nordeste. O Sport tem uma estrutura muito boa. Se você conhece o CT do São Paulo e vier aqui conhecer o CT do Sport vai ver que não há diferença. Aqui, temos quatro campos com gramados perfeitos para treinar. Temos hotel, estrutura de fisioterapia, sala de musculação, tudo moderno e bem montado. É uma estrutura nova e funcional. Acho também que atletas como o Diego são atraídos também por salários em dia. Aqui no Sport não este negócio de receber salário em carteira e não receber direitos de imagens. Aqui está tudo rigorosamente em dia, incluindo as premiações. Isso é importante. Dá tranquilidade para o jogador em casa, com a família e isso reflete em campo.
Você faz parte de um nova geração de treinadores que os clubes estão investindo, como o Roger do Grêmio, Vinicius Eutrópio da Chapecoense, Marcelo Fernandes no Santos…
Tem o Doriva.
Que caiu na noite deste domingo.
Que pena. O Vasco da Gama fez a melhor partida dele no Brasileiro no sábado. Nós fomos dominados num determinado momento do jogo. Estava indo bem. Mas vencemos.
Qual o seu estilo, sua marca como treinador?
Venho de uma escola de dez anos trabalhando com meu pai (Nelsinho Baptista), como preparador físico. Aprendi muitas coisas como conhecimento tático e técnico. Ele era muito criterioso e detalhista. Acho que esta é minha marca. Estudo muito. Olho cada jogo em busca de coisas pequenas que fazem a diferença.
Taticamente, como joga o Sport?
Para marcar, meu time joga no 4-4-2, podendo varia para 4-1-4-1. Jogando com a bola, variamos de 4-2-1-3 ou 3-4-3. Mas acho que o importante é ser perfeccionista nos treinos. É repetição o tempo todo. Tento variar uma ou outra atividade para não cansar o elenco, mas tem que repetir. E depois, olhar os vídeos dos treinos e dos jogos, apontar detalhes que fazem a diferença.
Você tem um sonho como treinador?
Estou dirigindo meu primeiro time. Quero acabar este projeto em dois, três anos. Estamos com um projeto bonito com a base. Para você ter uma ideia, a última grande revelação foi o Juninho Pernambucano. Agora já temos jovens no grupo que são muito bons. Depois, quero ganhar o mundo, trabalhar na Europa ou no Japão.
É diferente?
É. Trabalhar nestes mercados é mais fácil para o treinador. Lá, ele tem que se prewocupar com o trabalho de campo. Aqui tem o extra campo. Se os resultados n}âo aparecem, a pressão aumenta. Não ganhamos a Copa do Nordeste e o Pernambucano e já pediram minha demissão. A direção manteve este trabalho. Às vezes você tem que ter um sanguezinho de barata.
O Sport é cavalo paraguaio?
Se engana quem pensa assim. Mas já tem pouca gente falando isso. Posso dizer que temos condições de fazer um grande Brasileiro. Falar em título é um projeto de três,quatro anos. Por enquanto, o que posso dizer é que vamos representar muito bem a região nordeste.