Em paz com o gol, Henrique quer voltar à seleção: “Posso ser top novamente”
Luciano Borges
O Coritiba saiu da zona de rebaixamento. Com a vitória sobre o Avaí por 2 a 0, o time paranaense finalmente deixou o Z-4. Está agora em 16º lugar, com 26 pontos e seis vitórias. Em três delas, o time contou com os gols do atacante Henrique Almeida. Aos 24 anos, ele começa a fazer as pazes com o gol. Já marcou cinco no Campeonato Brasileiro. É pouco para quem já foi eleito o melhor do Campeonato Mundial Sub-20, em 2011 na Colômbia. Mas é o suficiente para quem, como ele admite, fez más escolhas na curta carreira profissional.
Na Colômbia e agora no Coritiba, Henrique tem Ney Franco como treinador. Os dois fazem parte de um pacote para tirar o time do risco de descenso. Estão conseguindo.
Henrique quer fazer desta passagem pelo Alto da Glória o início de uma trajetória mais sólida e feliz. ''Tenho plenas condições de ser top'', disse ao Blog do Boleiro o jovem atleta que já investe na carreira empresarial. Junto com um primo, ele possui uma grife de roupas esportiva e casual em Brasília, onde nasceu. ''O negócio está indo bem,. É meu primo que toca. Mas está indo legal'', afirmou.
Na entrevista por telefone, Henrique admite ter feito ''más escolhas'' e fala de problemas no São Paulo e a sequência de clubes com altos e baixos.
Blog do Boleiro – Você voltou a fazer gols. O que estava faltando?
Henrique Almeida – Eu sempre falei: preciso de uma sequência de jogos. Não dá para jogar 15 minutos em uma partida, cinco em outra e três em outra. Eu preciso da confiança do treinador e do grupo. Desde a base eu vinha fazendo muitos gols. Agora com seis partidas como titular, já dá para mostrar alguma coisa.
Em 2011, você foi campeão mundial Sub-20, artilheiro do torneio e eleito o melhor jogador da competição. Mas não se firmou no São Paulo. Por que?
Eu me precipitei. Teve alguns problemas com a diretoria do São Paulo. Fui para o Granada e isso não ajudou em nada. Mas não me arrependo. A cobrança era muita, mais do que com outro atacante.
Como assim?
Eu joguei na base do São Paulo dos 15 aos 17 anos. Em 2008, me profissionalizei. Disputei a Copa Sul Americana como profissional e voltei para a base. Em 2009, subi de volta com o Muricy Ramalho. Quando voltei do Mundial em 2011, não tiveram paciência comigo. Quando você é novo, não vai jogar bem todos os jogos. Tirando os que são acima da média, como o Ronaldo ou o Cristiano Ronaldo, você tem altos e baixos. Eu sou um jogador mediano. Me colocavam em campo e eu tinha que resolver em campo.
Você esperava outra cobrança?
Seria melhor terem tido paciência. O ideal é o jovem atleta chegar ao profissional, ir se adaptando e esperando o momento dele. Não tiveram isso comigo. No Brasil, se acaba queimando muitos jogadores novos por causa disso. Acham que o jogador da base é a solução.
Você falou de problemas com a diretoria do São Paulo. O que aconteceu?
Em 2010, meu empresário (Giuliano Bertolucci) levou o Oscar para o Internacional. O caso foi parar na justiça. Isso me afetou lá dentro. Senti que o ambiente comigo não era a mesma coisa. Fui emprestado para o Vitória em 2010 mesmo. Aí, no início de 2012, quase na última hora, o treinador Émerson Leão deixou claro que não iria me utilizar na época. Isso precipitou minha ida para o Granada.
E lá você jogou apenas seis partidas.
Cheguei lá no final de janeiro. Joguei três ou quatro partidas. Acabei me machucando. Quando voltei, não fui aproveitado bastante. Nem fiquei lá direito.
No mesmo ano (2012) você foi emprestado ao Sport. Como foi lá?
Acho que fiz um bom Brasileiro. Joguei 16 partidas. Marquei quatro gols. Mas joguei bem, fiz várias assistências. O São Paulo quis me negociar e não fiquei lá. Fui para o Botafogo que me comprou em 2013. Fui campeão carioca, ficamos em quarto no Campeonato Brasileiro e chegamos à Libertadores. Não fiz muitos gols, mas o técnico Osvaldo de Oliveira me pôs para jogar.
Você passou pelo Real Madrid?
Na verdade, cheguei a treinar no Real Madrid B. Mas a situação do Botafogo, com penhora e tudo, tornou proibido qualquer venda ou empréstimo. Então voltei e disputei a Libertadores de 2014. Fui titular no Campeonato Carioca. E mesmo assim fui emprestado ao Bahia. Lá joguei o Brasileiro. Marquei quatro gols. Mas voltei no início do ano para o Botafogo. Aí o Ney Franco conversou com os caras aqui e do Coritiba e demonstrou interesse. Então vim para cá.
Você faz parte de uma geração que está chegando na seleção brasileira adulta.
Sim. No Sul-americano do Peru (2011), o time tinha o Lucas Moura, o Neymar, o Oscar, o volante Fernando, o Casemiro, os laterais Alecsandro e Danilo. No Mundial da Colômbia, o grupo contou também, com o Philippe Coutinho e William José com quem joguei no ataque. Esta geração já era para ter disputado a Olimpíada de Londres. Eu fiquei de fora por causa dessas mudanças todas de clube.
Você ainda pensa em seleção brasileira?
Isso nunca saiu da minha cabeça. Fiz más escolhas, mas sou novo. Tenho muito futebol pela frente e eu amo este esporte.
Você acha que pode voltar a ser um atleta de elite?
Tenho plenas condições de ser top. Se eu continuar assim, posso fazer coisas grandes.
O Coritiba deixou a zona de rebaixamento. O que mudou?
O time mudou totalmente a atitude que vinha tendo. Precisamos agora ganhar duas ou três partidas seguidas para não voltar a ficar perto do perigo.
Qual sua principal qualidade?
Acho que meu posicionamento, minha movimentação e finalização. Faço muito quele facão em direção a área. E me considero um cara calmo na frente do goleiro.