Técnico pontual, Careca avisa: “Para encarar a Argentina não pode ter medo”
Luciano Borges
Auxiliar-técnico pontual da hora, Careca não sabe ainda se vai precisar fazer discurso para os jogadores convocados por Dunga para os jogos eliminatórios diante da Argentina e Peru, em novembro. ''Vai ser legal. Ainda não sei como posso contribuir, mas quero ajudar'', disse ao Blog do Boleiro o atacante que, aos 55 anos, participa de jogos de veteranos e ainda sofre com dores nos dois joelhos. ''Eu corri uns 40 minutos ontem em Sorocaba, junto com o Muller, e vou passar a semana com gelo nos joelhos. A artrose judia demais'', disse o titular da seleção brasileira nos Copas do Mundo de 86 e 90.
Companheiro de Diego Maradona no Napoli, onde jogou de 1987 a 1993, Careca tem um compromisso marcado com o argentino no início de dezembro, quando será lançado um livro sobre o time que teve Diego, Careca, Alemão e outros e foi campeão da Itália e da UEFA.
Hoje, Antônio de Oliveira Filho vive uma vida de avô. O neto David Lucas (''Ele tem o mesmo nome do filho do Neymar'', comentou) é filho de Aline, a mais velha da família de Careca que vive toda na mesma casa em Campinas. ''Moram todos comigo. É uma festa: jogo bola, solto pipa, rodo pião. Tudo com o neto'', contou.
Por telefone, ele contou como foi convidado e avisa: para vencer a Argentina não pode ter medo.
Blog do Boleiro – Quando você foi chamado?
Careca – O Gilmar já tinha me convidado em outras oportunidades, mas tinha alguns compromissos e viagens para fazer. Agora sou avô, minha vida anda corrida. Mas na segunda-feira, o Gilmar me ligou e coincidiu de só ter um evento em Nápoles no dia três de dezembro. Então encaixou legal. Vamos ver como posso contribuir. Tenho 55 anos, a artrose prejudica os dois joelhos. Jogar não vai dar (risos).
Deve ser legal ser convocado outra vez depois de 22 anos.
Sabe que hoje de manhã, teve gente me ligando e dando os parabéns. 'Você foi convocado', disseram. É legal. Vamos ver como posso contribuir. Eu deixei a seleção em 1993, depois do jogo contra a Bolívia nas eliminatórias. Pedi para não me chamarem mais. Já tinha dado minha contribuição. Acho que vou poder passar alguma coisa para o time.
Bom, você já encarou a Argentina algumas vezes.
Já. Inclusive, em 1985, eu fiz um gol de bicicleta. Era o time do Evaristo de Macedo antes da Copa do Mundo do México. Sempre são jogos pegados. Eu encarei a marcação do Ruggeri, aquele zagueiro filho de uma égua. Era maldoso, batia mesmo. Encontrei com ele fora do campo e o cara é uma moça de delicadeza. Joguei contra outros zagueiros assim. Dentro do campo batiam sem dó. Fora eram uns cavalheiros.
Em Copas do Mundo você só encarou a Argentina uma vez.
Foi. Em 1982 fiquei com a seleção do Telê Santana até dois dias antes da estreia contra a União Soviética. Fui cortado por lesão e pedi para voltar porque meu coração não iria aguentar ver a seleção jogando e eu não poder ajudar. Em 1990, na Copa do Mundo da Itália, nós jogamos e perdemos para a Argentina. Eu e o Alemão, que jogamos com o Maradona no Napoli, recomendamos marcação homem a homem no Diego. Ele estava até meio acima do peso e machucado, mas era a fim de ganhar do Brasil, mesmo que não fosse para ser campeão. Falamos: ''Vamos marcar homem a homem''. Mas o treinador (Sebastião Lazaroni) mandou marcar por zona. No único lance que ele teve liberdade, deu naquilo. Gol da Argentina e fomos eliminados.
Você curtia jogar na seleção?
Muito. Eu gostava. O ambiente era sempre legal. Tivemos alguns problemas em 1990 pro conta de patrocínios, mas o grupo era muito legal. Você está com os melhores com a possibilidade de representar o Brasil. E a gente jogava e joga não só para o Brasil ver. O mundo fica atento. E isso ainda valoriza muito o jogador. O tempo passou, muita cosia mudou. Hoje, o jogador pode fazer carreira na Europa sem a seleção. Mas jogar pelo Brasil é uma baita exposição.
Você espera encontrar o Maradona em Buenos Aires?
Podia ser não é. Ele está em Dubai, mas quem sabe ele volta para ver esse jogo.
Brasil e Argentina é o duelo mais difícil da América do Sul?
São jogos difíceis. Mas ontem mesmo estava conversando com amigos. Muita gente fala que o Brasil está numa draga danada, que não tem mais talentos. E eu pergunto: quem tem na Argentina que é f…..? E o Uruguai? E o Chile? Tem uns dois ou três. Está tudo equilibrado. Mas eu vi o jogo do Brasil contra a Venezuela. Viu o Willian jogando? Rapaz do céu, ele é incrível. Joga muito. Agora, tem que ter consistência. Não pode jogar bem hoje e amanhã não.
O que é preciso para vencer a Argentina?
É preciso iniciativa. Não pode ter medo. Tem que jogar pra cima. Uma coisa que anda faltando é um xerife no time, aquele cara que, se um argentino bate no Neymar, ele vai lá e mostra que vamos para cima. É preciso impor respeito. Eles não estão numa fase boa. Só têm um ponto ganho. Se a gente ganha ainda provoca crise por lá.
Para você, hoje quem é o melhor atacante do Brasil?
Ele é segundo atacante, mas o Neymar é gênio, um fenômeno. Outro que é talentoso demais é esse menino que vi ontem no Morumbi (Santos 3 x 1 São Paulo) . O Gabriel, Gabigol do Santos, é forte, corre muito, ajuda no combate mesmo naquela chuva toda, finaliza bem como os bons canhotos. Acho que ele pode ter lugar no time principal do Brasil. Ele tem uma personalidade f….. O Lucas Lima também joga fácil. Ele tem momentos que lembra o Messi. Joga fácil. No Palmeiras tem aquele menino, Gabriel Jesus, é outro que já, já vai subir para a seleção principal.