Promotor prega fim de escolta da PM às uniformizadas: “Eles que se matem”
Luciano Borges
Paulo Castilho, Promotor de Justiça do Jecrim (Juizado Espacial Criminal) e do Juizado do Torcedor, anda radical na luta ao combate às torcidas organizadas do futebol paulista. Ele defende que a Polícia Militar deve parar de fazer escoltas aos uniformizados quando 1) eles estão a caminho do estádio e 2) quando há risco de conflito contra torcidas adversárias.
''Não tem que ter escolta. O torcedor comum não vai para o estádio tranquilo? Então os caras têm que ir sozinhos. E se vão bater em outros ou entrar em brigas, eles serão presos e afastados dos estádios. Eles querem marcar para brigar? Eles que se matem. Metade vai para o cemitério e metade vai para a cadeia'', disse ao Blog do Boleiro.
Paulo aposta que os uniformizados contam com a atitude paternal da PM. ''Você viu no meio de semana. Os caras falaram que seria arriscado ter jogo do Corinthians e do Palmeiras no mesmo dia, com uma diferença de pelo menos duas horas entre um jogo em Osasco (Audax x Corinthians) e outro no Pacaembu (Palmeiras x São Bento). Saíram dizendo que ia dar conflito no metrô. A PM não aumentou o aparato e o que acontece? Nada. Não aconteceu nada'', afirmou.
A confiança de que a Polícia Militar não precisa ser ''babá'' de uniformizados vem do fortalecimento do Juizado do Torcedor. No ano passado, o secretario de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, deu condições para atuação conjunta do Ministério Público com as polícias Militar e Civil e com o poder judiciário para combater as organizadas.
''Até o final do ano, o balanço mostrou que 141 torcedores foram presos ou cumprem transação penal ou foram afastados dois estádios. Temos vários inquéritos em andamento. Me atrevo a dizer que se incluirmos janeiro vamos chegar a 150 organizados punidos. O cerco está se fechando e as torcidas sabem disso. Eles sabem que terão que mudar porque estão sendo investigados'', falou o promotor.
Castilho aposta na instalação de um sistema de controle de vendas de ingressos. O Juizado, a Federação Paulista e os clubes estão estudando uma maneira de fazer venda online, pessoal e intransferível. ''Será uma entrada por pessoal e ela não vai poder vender para outra pessoa'', reforçou.
O efeito pretendido é asfixiar as organizadas ao tirar delas uma fonte de renda importante: ''A venda de ingressos clandestina é 90 por cento da renda deles. A partir daí eles fazem campismo e a lavagem de dinheiro. Estamos atrás deste crime. Já temos a autorização'', falou o promotor.
Mas deixar as organizadas brigarem livremente não é um exagero?
Castilho explicou: ''Há dez anos que fazemos deste jeito 'babá'. Não tem dado resultado. Este negócio de escolta, cordão de isolamento pode evitar brigas na porta do estádio, mas não tem feito para mudar a natureza destas torcidas. Se os caras forem ao estádio como gente civilizada, como aconteceu no último jogo do Corinthians, sou o primeiro a apoiar a festa. Eles que se comportem e respeitem a lei'', disse.
Desde a partida entre Corinthians e Audax, a Gaviões da Fiel está suspensa pela Federação Paulista de Futebol. Seus integrantes não podem entrar com roupas que os identifiquem como integrantes da uniformizada corintiana. Os dirigentes organizaram dois protestos na porta da nova sede da FPF. Em resposta oficial ao Blog do Boleiro, o presidente da entidade – Reinaldo Carneiro Bastos – não colocou restrições ao movimento: ''A Federação Paulista de Futebol respeita todo tipo de manifestação pacífica, assim como aconteceu nos dois atos da Gaviões da Fiel, domingo (31) e quarta-feira (3)''.