Presidente de Tribunal da Conmebol diz que Nacional não deve perder pontos
Luciano Borges
Jogar com estádio vazio, pagar uma multa ou perder mandos de jogo. Segundo o presidente do Tribunal de Disciplina da Conmebol, o brasileiro Caio César Vieira Rocha, estas são as prováveis punições que deverão ser impostas ao Nacional de Montevidéu por causa do gesto racista de um torcedor durante o jogo contra o Palmeiras (1 a 0), na última quinta-feira no estádio Gran Parque Central, na capital do Uruguai. ''A tendência da penalidade é multa ou algum tipo de sanção relacionada à torcida, como portões fechados etc'', disse ao Blog do Boleiro.
A Confederação Sul-americana de Futebol ainda não puniu um clube cujo torcedor cometeu uma ação racista com a perda de pontos.
Até a noite desta sexta-feira, a entidade ainda não tinha recebido o material enviado pelo Palmeiras. Trata-se de um vídeo mostrando um torcedor do Nacional imitando um macaco na frente do jovem atacante palmeirense Gabriel Jesus. O fato aconteceu no segundo tempo da partida vencida pelo Nacional por 1 a 0.
O clube brasileiro informou que pediu que as imagens fossem enviadas à Conmebol pelo delegado da partida. Caio César não tinha sido informado deste material nem da denúncia dos dirigentes do Palmeiras.
A assessoria de imprensa do Palmeiras emitiu a seguinte nota: ''A Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público para repudiar os atos racistas cometidos contra o atleta Gabriel Jesus na noite da última quinta, em Montevidéu. O clube reitera que condena quaisquer práticas que discriminem seres humanos por sua raça, cor, etnia, religião, gênero ou procedência nacional. Informamos que, por meio do delegado da partida, encaminhamos as imagens para a Confederação Sul-Americana de Futebol a fim de que se tome as providências cabíveis''.
O caso vai parar no Tribunal de disciplina. Em tese, Caio César diz que é possível se punir um clube com perda de pontos em casos como o de racismo. ''Mas nunca houve aplicação de perda de pontos em caso semelhantes'', completou o Caio, que é também presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. A Conmebol, em seu novo estatuto, acenou com a ideia de penas mais duras contra atos racistas.
Mas não é o que casos anteriores mostram.
Em 2005, o zagueiro argentino Desábato, do Quilmes, foi preso por ofender o atacante Grafite com palavras de teor racista durante um jogo da Copa Libertadores. O clube não perdeu pontos. O mesmo aconteceu com o Real Garcilaso, do Peru, cujos torcedores xingaram incessantemente o meia Tinga, do Cruzeiro. Até a CBF entrou no caso e fez a denúncia, mas o Tribunal da Conmebol limitou a pena a uma multa de, na época, cerca de R$ 50 mil.
Depois de ser ofendido com os gestos do torcedor do Nacional, Gabriel Jesus reclamou com o árbitro da partida Carlos Vera. Se o juiz colocar esta queixa na súmula, a abertura de processo será automática.
O presidente do Tribunal de Disciplina não poderá participar do caso. ''Sou brasileiro e este fato envolve um clube brasileiro, no caso o Palmeiras'', disse Caio César. O órgão tem cinco participantes. O vice presidente Adrián Leiza Zunino é uruguaio e também está impedido de analisar esta denúncia do Palmeiras. Restam três nomes: Alberto Lozada Añez(Bolívia), Carlos Tapia Aravena (Chile) e Orlando Morales Leal (Colômbia). Serão eles os julgadores.