Blog do Boleiro

Técnico do vexame de 1987, C.A. Silva diz que ficou com pena de Dunga

Luciano Borges

Aos 73 anos, Carlos Alberto Silva cuida da rede de agências de turismo que montou em Belo Horizonte. Foi em uma destas loja que ele se encontrava quando o Blog do Boleiro telefonou para falar da eliminação da seleção brasileira ainda na primeira fase da Copa América do Centenário. Silva passou por situação semelhante. Em 1987, no torneio sul-americano disputado na Argentina, o Brasil não passou da fase de grupos. Sofreu uma goleada para o Chile (4 a 0) que foi considerada um imenso vexame. ''Não gosto de lembrar. Foi triste'', disse.

Por isso, Carlos Alberto sentiu muito a derrota do selecionado brasileiro para o Peru (1 a 0) neste domingo  em Boston (EUA). ''Fiquei com pena do Dunga. Sei o que acontece nesta hora'', afirmou.

Em 1987, o Brasil estreou no Grupo B da Copa América goleando a Venezuela por 5 a 0 logo no jogo de abertura. No dia seguinte, Carlos Alberto diz ter cometido o grande erro dele: ''Levei os jogadores para o estádio em Córdoba (sede da chave, na Argentina) para estudarem o Chile. E os chilenos jogaram muito mal. Ganharam por 3 a 1, mas os atletas voltaram para o hotel achando que ia ser moleza'', contou Silva.

Resultado: um desastre. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 e eliminado da competição. Naquela edição, o regulamento da Copa América dividiu os nove times em três grupos e só os primeiros colocados passaram para o quadrangular semifinal que já tinha o Uruguai (campeão da edição anterior).

O time brasileiro tinha jogadores de nome: Careca, Silas, Muller, Edu Marangón, Nelsinho, Romário, Milton, o goleiro Carlos e o volante Dunga, que não chegou a jogar.

Naquela época, a CBF não conseguia garantir a vinda de jogadores porque a Fifa não tinha criado datas para jogos amistosos nem tinha obrigado os clubes a cederem atletas para torneios internacionais. Assim, Ricardo Gomes e Valdo não foram liberados pelo Benfica e não apareceram.

Por conta desta falta de proteção, Carlos Alberto Silva teve que, em dois anos, montar 27 times diferentes. Mesmo assim, já tinha vencido a Copa Stanley Rous em 1987, quando lançou Raí. Mesmo com o vexame na Copa América, o ano de 1988 não foi de todo ruim para Silva e o Brasil.

Eles foram campeões do torneio Pré Olímpico disputado na Bolívia e, depois, conquistaram amedalha de prata nos Jogos Olímpicos de Seul. A seleção brasileira conquistou também a Copa do Bicentenário da Austrália.

A geração de jogadores chamados por Carlos Alberto seria eliminada em 1990, na segunda fase da Copa do Mundo da Itália. O técnico era Sebastião Lazzaroni. Este grupo voltaria a disputar o Mundial de 1994, no Estados Unidos, e ganhou a Copa sob orientação de Carlos Alberto Parreira.

Carlos Alberto Silva acha que os jogadores da atual safra enfrentam um problema de difícil solução: ''Eles estão pagando um preço muito alto da derrota para a Alemanha (7 a 1) na Copa do Mundo. Agora terão que lidar com o fato de não terem conseguido o objetivo da Copa América. É duro'', afirmou. 

Sobre a possível demissão de Dunga, Silva acha que mudar de treinador não vai resolver a situação da seleção. ''Se o Dunga sair, vai vir outro, depois outro e depois outro. Porque não há estrutura para sustentar um projeto como o da Copa América. É tudo no vapt-vupt''