Trilha sonora de Albertinho “ensina” rock clássico para nadadores do Brasil
Luciano Borges
Piscina para aquecimento do Centro Paraolímpico Brasileiro, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Atletas olímpicos se preparam para os Jogos do Rio, cinco dias antes de entrarem na Vila Olímpica. Thiago Pereira (nado medley), João Gomes (peito), Etiene Medeiros (costas), Nicolas Nilo Oliveira (livre) estão indo e vindo nas raias junto de Kaio Márcio (borboleta), Larissa Oliveira (livre), Daiene Dias, (borboleta) e outros. O ritmo é lento. E tem trilha sonora: ''“See Me Feel Me/Listening To You”, faixa da ópera rock Tommy, do grupo inglês The Who, lançada em 1969.
O som sai de uma caixa acoplada ao ''tablet'' do técnico da equipe brasileira Alberto Pinto da Silva, o Albertinho. Já é quase uma tradição. Nas viagens de van, os atletas ouvem a lista de canções do chefe. E ela passa por clássicos do rock e de bandas mais recentes. ''Tenho Guess Who, Bad Company, The Who, mas tenho também Rage Against The Machine, Artic Monkeys, Audioslave e Black Keys. É bem misturado'', disse Albertinho do Blog do Boleiro
Misturado, porém não tão junto. Afinal, os nadadores vão ouvindo músicas que não conheciam. ''Eles até reclamam, mas tenho colocado coisas que eles gostam, como rap do Criolo, Tupac Shakur e Eminem'', contou.
Nicolas Nilo até reparou: ''Outro dia, o Albertinho pôs um rap que eu gosto. Está de parabéns'', disse o velocista que vai disputar medalhas em quatro provas (100, 200, 4×100 e 4×200). Ele acha a ideia de treinar com trilha sonora uma ótima ideia. E a explicação é bem sincera: ''Deus me deu o talento de nadar, mas não é o que mais gosto de fazer. Treinar é chato, uma atividade silenciosa e solitária'', disse.
Por isso, Nicolas não se separa dos sons que gosta. ''Digo sempre que minha bagagem é a touca, os óculos e o Ipod'', falou antes de listar os favoritos: ''Jovelina Pérola Negra, Fundo de Quintal, Adoniran Barbosa, samba da velha guarda, hip hop e, antes das provas, reggae que me deixa mais relaxado. Adoro Bob Marley'''',completou.
O gosto de João Gomes passa pelo samba e avança para outro som de raiz brasileira: ''Por causa do meu pai, aprendi a gostar da velha guarda do sertanejo, como o Trio Parada Dura'', disse o especialista no nado peito que está entre os três mais rápidos do mundo na atualidade.
João e Nicolas acham que a ideia de Albertinho fornecer uma trilha sonora para o treino é bem vinda. ''Fica mais descontraído e agitado. Nesta fase então, é só treino, treino e treino'', afirmou Gomes.
Alguns nadadores andaram testando outros meios de animar treinos no aquecimento e na hora de ''soltar'', depois do trabalho. Ele apareceram com fones de ouvido que já reproduzem músicas e são à prova d'água. Não dá, no entanto, para eles se isolarem das orientações dos técnicos.
Na última quinta-feira, as meninas do revezando 4 x 100 treinaram largada e troca de nadadoras. A cada tiro, elas foram gravadas em vídeo e depois se reuniram com os analistas e treinadores. Um software chamado Dartfish mostra os movimentos das atletas a cada frame, o que ajuda a entender o que elas estavam fazendo de certo ou errado nos movimentos.
No período em que a equipe do Brasil passou no hotel no bairro da Vila Olímpia, numa rua chamada Olimpíadas, o trabalho mais pesado foi feito na parte da manhã em uma academia de ginástica onde Albertinho já orientou uma equipe formada por César Cielo no passado.
Esta rotina veio acrescida de novidades como o óculos que emite uma luz verde e tem por objetivo manter o metabolismo do corpo como se ainda fosse dia, mesmo às 22h00. Meia hora de aplicação adia o sono e engana o organismo para manter os nadadores espertos e prontos para as finais, todas programadas para o final da noite para atender os interesses das emissoras de televisão dos Estados Unidos e Ásia.
Tempo livre, com horas a mais acordado de noite, requerem distração. Uma delas foi jogar jogos de tabuleiro como War e Imagem & Ação. Com um adicional de emoção: no jogo de guerra, algumas alianças são feitas entre nadadores que trocam informações pelo whatsapp. Além de risadas, esta manha gerou broncas de nadadores como Manuella Lyrio, que vigia e denuncia ''trapaças''.
Aliás, é dela a citação da frase favorita que pode se aplicar a atletas de alto nível da natação: “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes”.