Aulas de russo, vida regrada. Bernard decide se adaptar rápido na Ucrânia
Luciano Borges
Aulas de inglês e russo. Uma vida quase monástica indo para os treinos e jogos e voltando para casa onde fica com os pais. Saídas noturnas estão fora de cogitação. Depois da recusa do Shakhtar Donetsk em negociar Bernard, o atleta se conformou com a ideia de não voltar para o Brasil e investe agora na adaptação mais rápida no time ucraniano.
Ele mora em uma casa espaçosa num condomínio em Kiev. Tem a companhia do pai, Délio, e da mãe Nélia, que cuidam da vida diária do filho e da alimentação dele. Comida mineira é a preferida do filho. Desde o ano passado, com o conflito entre Ucrânia e Rússia, a cidade de Donetsk se tornou o centro do movimento separatista pró-russo. Por isso, o time do Shakhtar foi transferido para a capital ucraniana.
O clima beligerante assustou os brasileiros. ''O clube em si é muito bom. A estrutura em Donetsk era ótima. O que arrebentou foi a guerra e a mudança de cidade. Aquela estrutura que eles tinham, não é a mesma hoje'', disse Adriano Spadotto, empresário do atleta, ao Blog do Boleiro.
O empresário de Bernard anda feliz com a mudança de atitude do jogador. ''Ele já está se saindo bem nas aulas de russo e inglês. O Bernard tem um pouco de dificuldade com a língua e com a adaptação ao clube. Mas já está superando'', garantiu.
O jogador que, como disse o técnico Luiz Felipe Scolari, ''tem alegria nas pernas'' está guardando energias com uma vida regrada. Fora de jogos e treinamentos, ele não convive com os jogadores da legião brasileira do Shakhtar (Ismaily, Azevedo, Fred, Marlos, Ilsinho, Taison, Alex Teixeira, Wellington Nem, Luis Adriano e Dentinho).
Douglas Costa e Fernando são a exceção e chegam a visitar Bernard em casa. Jantares em restaurantes também são esporádicos.
O empurrão para esta mudança de atitude veio dos amistosos contra o Ael (1 x 1) e o Aris (4 a 3), times cipriotas, nos dias 27 e 29 de março. O técnico Mircea Lucescu escalou Bernard como titular. O brasileiro retornou depois de tratar uma lesão muscular por um mês.
No primeiro jogo, ele ficou em campo até os 18 minutos do segundo tempo. Diante do Aris, o atacante mineiro ficou o tempo todo em campo. O Shakhtar venceu com três gols de Wellington Nem e um de Ilsinho. ''Está tudo bem com ele agora. Já passou a crise com o treinador'',afirmou Spadotto.
Lucescu andou às turras com o brasileiro de 22 anos que custou cerca de R$ 78 milhões ao time ucraniano. Notou que a adaptação de Bernard dependia da boa vontade do jogador. Na pré temporada deste ano, em Belo Horizonte, treinador e jogador trocaram farpas. Bernard dizia que queria voltar ao Brasil. Lucescu cobrou profissionalismo.
''Ele queria voltar'', disse Spadotto, que foi incumbido de tentar convencer o Shakhtar a negociar com dois clubes interessados: Corinthians e Atlético Mineiro.
A crise chegou até à direção do Shakhtar. O presidente Rinat Akhmetov entrou no circuito. Ordenou a Lucescu que voltasse a dar chances a Bernard. E deixou claro para Spadotto que não iria emprestar Bernard para Corinthians, Atlético Mineiro ou outro clube. ''Ele disse que não tinha negociação'', falou o representante do jogador.
A intervenção de Akhmetov aconteceu no dia 26 de março. O Campeonato Ucraniano está na folga da primavera. A equipe foi ao Chipre para os dois amistosos. Lucescu colocou Bernard no time titular e ele anda feliz.
''O Bernard vai ficar no Shakhtar pelo menos mais uma temporada. Ele tem mais três anos de contrato'', afirmou o empresário.