Blog do Boleiro

“Não vamos permitir a crise contaminar a seleção”, diz secretario da CBF

Luciano Borges

O secretário geral da Confederação Brasileira de Futebol, Walter Feldman, deixou claro que a direção da entidade não vai permitir que a crise instalada no futebol mundial e que atinge o Brasil e a CBF, atrapalhe a preparação da seleção brasileira que vai disputar a Copa América no Chile. Junto com o presidente Marco Polo Del Nero, Feldman esteve na Granja Comary, em Teresópolis,  onde a dupla conversou com a comissão técnica e jogadores. Del Nero evitou contato com os repórteres. A ideia é esvaziar o assunto perto e longe do time do Brasil.

Longe, já nos bastidores, a direção da CBF adotou uma ''postura de vacina''. No mundo político, trata-se de criar ações positivas que desviem a agenda do problema principal. Político experiente, Feldman acelerou entendimentos com a bancada do esporte no Congresso para que a MP do Refinanciamento da Dívidas dos Clubes de Futebol seja discutida mais rapidamente e com alterações em favor dos clubes. Além disso, nesta segunda-feira em reunião com os presidentes das agremiações, vai colocar em pauta o fair play trabalhista que a CBF quer impor mesmo que o tema faça parte da MP. Para dar uma imagem de modernidade na instituição, Marco Polo vai propor às Federações – na quinta-feira – que mudem o estatuto da CBF e permitam apenas uma reeleição.

Estes movimentos visam mostrar que o presidente quer mudanças e assim tentar descolar a imagem dele junto ao vice José Maria Marin, que está preso na Suíça, por corrupção. Mas o objetivo principal é evitar o que muita gente especulou durante a semana: a renúncia de Del Nero. Ele não quer sair tão cedo.

Blog do Boleiro – O presidente Marco Polo Del Nero vai renunciar?
Walter Feldman –
Possibilidade zero. Não trabalhe com isto. Você vai ser mais um que vai errar. Começaram com esta especulação porque o (Joseph) Blatter renunciou. Não há nenhum motivo para que o presidente renuncie.

A prisão dos dirigentes da Conmebol, Concacaf e do vice da CBF, José Maria Marin, respinga de que maneira no futebol brasileiro e na Confederação?
Foi um abalo no futebol mundial. O brasil, mais por conta do José Maria Marin ter sido atingido, entrou num processo de avaliação. Mas é ilação especular que o Marco será atingido. Não há nada, nenhuma acusação feita diretamente. Seguimos aqui na CBF numa normalidade fazendo o que a gente ia fazer mesmo. Lógico que os fatos ocorridos alimentaram aqueles que têm antipatia e pedem a renúncia do presidente, querem uma CPI etc. Mas vamos fazer tudo dentro do normal e vamos mudar algumas coisas.

Mudar o quê?
Na reunião de segunda-feira com os clubes vamos atualizar o relato do que acontece com a MP (medida provisória do governo que refinancia dívidas dos clubes e cobra contrapartidas) no Congresso. Estamos na reta final, agora que já temos o parecer pronto do relator, deputado Octavio Leite. Também vamos iniciar o processo das normas de licenciamento que vão ser aplicada em todos os clubes do país. Trata-se de aplicar o fair play trabalhista e outras medidas para sanear as finanças dos clubes: normas técnicas, finanças, estrutura. Não pode deixar de pagar os jogadores. Não pode contratar sem ter caixa para isso. Enfim, é preciso ter uma gestão responsável do futebol. Já é uma determinação da Fifa que vai entrar em vigor a partir de 2016. Mas a CBF resolveu antecipar este processo.

E na reunião com os presidentes de Federações?
Aí vamos tratar de mudanças como a redução do mandato do presidente, com um mandato e uma reeleição. Vamos também conversar sobre a “redivisão” territorial da CBf, o que implica em mudanças dos vices presidente. Não há nada sobre sucessão ou renúncia. Nada mesmo.

A seleção brasileira teve menos espaço na mídia do que a crise no futebol e os desdobramentos aqui no Brasil. Qual a preocupação que vocês têm com o time do Dunga?
Veja, com este clima açodado, estamos tentando isolar os jogadores do resto. Mas ontem, na entrevista coletiva do Thiago Silva, ele foi agredido por um repórter.

Agredido?
É, não agressão física. Mas o jornalista, que não sei quem é, perguntou para ele até quando os jogadores ficariam alienados do que está acontecendo e se recusando a falar sobre o tema. Não tem sentido. Eles estão se preparando para a Copa América.

Mas vocês foram à Granja Comary e também não falaram com os jornalistas.
Nós fomos lá para dar um abraço, dar uma força. Ficamos uns 50 minutos e foi ótimo conversar com os jogadores. Não quisemos dar entrevistas porque já sabíamos que as perguntas seriam as mesmas, sobre renúncia, sobre esse tema da Fifa. Não vamos permitir a contaminação na seleção. Não vamos criar zonas de turbulência.