Levir aprova Muricy no Atlético-MG e fala sobre o São Paulo: “Vamos ver”
Luciano Borges
Na manhã desta quinta-feira, Levir Culpi se despediu dos jornalistas que cobrem o Atlético Mineiro, pediu para que falassem dele como um cara legal e chorou. Na manhã desta sexta-feira, às oito horas, o agora ex-treinador do Galo levantou e, ainda no quarto do hotel na capital mineira, leu um e-mail enviado e escrito pelo jornalista atleticano Chico Pinheiro, da TV Globo. ''Era em tom de uma carta. Muito emocionante. Chorei de novo'', contou o técnico ao Blog do Boleiro.
Ele repartiu o café da manhã com a gerente do hotel. ''Ela estava emocionada. Chorou e eu chorei'', falou. Por volta das 13h00, vários funcionários subiram ao quarto 1906 e pediram para tirar fotos com o hóspede ilustre e ''legal''. ''Me emocionei de novo e chorei'', contou Culpi.
Sem medo de ser feliz chorando, Levir Culpi, 62, resumiu assim o primeiro dia em Belo Horizonte depois de se desligar do Atlético: ''Foi uma choradeira só''.
Depois de quase 20 meses à frente do time do Galo, o treinador deixou o clube. Foi informado pelo presidente Daniel Nepomuceno que não estava nos planos para a próxima temporada. Ele foi demitido depois de comandar a equipe mineira em 288 jogos, obtendo 154 vitórias, perdendo 74 partidas e empatando 60 vezes. Foi campeão mineiro e da Copa do Brasil.
Agora, Levir Culpi retorna a Curitiba, onde mora a família e, ao lado da esposa Marília, vai mimar o primeiro neto do casal. E tentar negociar um novo clube no Brasil, EUA ou Europa. Mas o São Paulo não está descartado. ''Vamos ver. Alguma coisa vai acontecer.''
Em conversa por telefone, ele disse que acha Muricy Ramalho um bom nome para ser seu substituto no Atlético Mineiro e desconfia de técnico com menos experiência para se impor no grupo.
Blog do Boleiro – Esses momentos de choro começaram na entrevista coletiva. Você é um homem que chora fácil?
Levir Culpi – Até sou, mas estou ficando mais. Acho que tem a ver com a idade. Aos 62 anos, venho olhando muito a vida com mais emoção, por um outro lado. Acho que choro o mesmo de antes, mas mais rápido agora.
A sensação que deu foi a de que você não queria sair do Atlético Mineiro.
Não verdade eu tinha a ideia de que poderia ter dado continuidade ao trabalho. Mas aí a diretoria do Atlético demorou um pouquinho para falar comigo e isso me deixou um pouco ansioso, achando que algo iria acontecer.
A diretoria não procurou você para conversar?
Na verdade, o (Eduardo) Maluf (executivo do futebol) me chamou há uns dois meses. Eles fizeram uma proposta e eu apresentei uma contra proposta. E não se falou mais. Acho que tem aí também a parte política do clube.
Foi você quem convidou o presidente Daniel Nepomuceno para jantar e conversar? Esse silêncio deixou você incomodado?
Ele que chamou para o jantar. Eu estava mesmo incomodado. Tinha comigo que era preciso resolver a situação. Quanto antes melhor. Assim daria mais tempo para fazer o planejamento do ano que vem. Para eles mesmo também foi melhor. Hoje eu escuto que eles estariam tentando contratar um treinador argentino (Alejandro Sabella, ex-seleção argentina e vice campeão mundial). Não sei quem virá no meu lugar, mas já pode planejar mais cedo.
De repente, o seu amigo pode ser seu substituto.
O Muricy (Ramalho)? Ele é uma boa. Tem muita personalidade. Vai chegar e se impor. Esse é o lado bom de um treinador experiente como ele que tem o respeito dos dirigentes e jogadores. Um técnico mais novo, sem tanta experiência, vai viver de resultado. Ele consegue aguentar duas derrotas. Duas derrotas e um jogo ruim já dá. Aí cai (risos).
E você vai voltar a trabalhar no japão?
No Japão não. Não gostaria de voltar para lá. Passei sete anos trabalhando lá (Cerezo Osaka, 2007 a 2013). O problema é que nasceu, há dois meses, nosso primeiro neto, o Davi, e não queremos ficar longe dele, eu e a Marília. E para ir ao Japão você gasta 30 horas de viagem, 24 só no avião. Fica muito difícil.
Então vai ficar no Brasil.
Eu estou procurando alguma coisa em mercados como os Estados Unidos e Europa. O Brasil também interessa. Mas no mercado asiático, Japão ou China, só se for uma coisa muito especial.
Muito dinheiro?
Dinheiro não é um problema. Penso mais em qualidade de vida.
Você tem alguém lançando seu nome nestes mercados?
O pior é isso. Não tenho procurador. Nunca tive. Não sei se foi bom ou se foi ruim na minha carreira. Mas tenho cuidado da carreira sozinho.
Já se fala no São Paulo.
Olha, não duvido nada. Acontece de tudo no futebol. Tive um ano legal em 2000 quando trabalhei no São Paulo. Ganhamos o Campeonato Paulista. Chegamos à final da Copa do Brasil e perdemos para o Cruzeiro. Eles fizeram um de falta no final e, aos 47 minutos do segundo tempo, o zagueiro do Cruzeiro tirou uma bola nossa que estava entrando no gol. Era um grupo muito bom, com o Raí, Edmilson. Tinha os jovens chegando: Júlio Baptista e Kaká. Foi uma safra boa. Vamos ver. Alguma coisa vai acontecer.
Mas alguém do São Paulo procurou você nas últimas horas?
Não fui procurado por ninguém.
Então você está oficialmente de férias.
Vou ficar por aí. Volta para Curitiba e acho que vou curtir meu netinho. Devo passar as férias na praia de Caiobá (PR). É engraçado. Meus familiares querem viajar no final do ano e eu quero ficar.
Você vai escrever o segundo livro?
Eu vou. Se demorar um pouquinho para encontrar outro clube, posso começar a escrever. Gostei deste negócio. Eu escrevi o primeiro livro, ''Um Burro Com Sorte?'' e o Adriano Rattman(assessor de imprensa) fez a revisão porque tem aqueles erros de português. Mas eu mesmo escrevi e vou escrever outro com essa passagem pelo Atlético, que foi incrível.
Quanto às histórias no Atlético Mineiro, a conquista da Copa do Brasil do ano passado foi digna de um filme.
Então, você vê aquela coisa de chorar. Eu participei do programa ''A Bola da Vez'', na ESPN, com o (ator) Dan Stulbach e o (Mario) Marras, da CBN de Minas. Eles me pediram para que eu contasse uma história comovente que eu passei no Japão. Eu lembrei do dia em que fui embora. Eles foram me buscar para me levar ao aeroporto. No caminho, os torcedores do Cerezo Osaka fizeram uma fila do hotel ao aeroporto, com flores. Tinha flores até na área de embarque. E eles naquela distância respeitosa. Eu e Marília choramos. E a Copa do Brasil teve história que se alguém contasse para quem não viu, iam achar que é invenção, mentira. Sei que no final, o Dan e o Marra também choraram.
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