Descobridor de talentos do São Paulo lamenta ter deixado Firmino escapar
Luciano Borges
Em 2008, Bilu, na época volante do Coritiba, veio tratar de uma lesão no Reffis do São Paulo, no CT da Barra Funda. Amigo de Milton Cruz, auxiliar técnico do Tricolor, ele contou que tinha conhecido um atacante de 17 anos que jogava muito e pediu uma chance para o menino treinar na base.
Cruz perguntou se o garoto tinha onde dormir em São Paulo. Com a resposta negativa, ele conversou com o então presidente Juvenal Juvêncio e conseguiu uma semana de alojamento no Centro de Treinamento de Cotia.
O adolescente alagoano, que estava na base do CRB de Alagoas, se chamava Roberto.
Depois da peneira, ele foi dispensado pelos homens da base do São Paulo. Bilu chegou a perguntar para Milton se não dava para esticar a “peneira”, mas ouviu que a decisão não era dele. “Então acho que vou levá-lo para o Figueirense, onde tenho amigos”, disse o volante que tinha sido titular do time catarinense entre 2003 e 2005.
Dois anos depois, Milton foi ao Estádio Orlando Scarpelli para acompanhar a partida entre Figueirense e Ponte Preta. Gostou muito de um atacante veloz e habilidoso que atuava pela direita. “Gostei dele. Era perigoso. Fiquei interessado”, conta o atual assistente de Juan Carlos Osorio, no São Paulo.
Depois da partida, no vestiário do Figueirense, Cruz conversou com o atacante Reinaldo (ex-São Paulo) e com o velho amigo Bilu. “Perguntei daquele atacante e o Bilu me disse: ‘aquele era o Roberto que eu indiquei e vocês não quiseram ficar’. Eu então perguntei se não dava para levá-lo para o São Paulo e ele me explicou que o jogador já tinha um empresário”, afirmou ao Blog do Boleiro.
O atacante Roberto é o Firmino, titular da seleção brasileira, contratado nesta semana pelo Liverpool pela bagatela de cerca de 140 milhões de reais (40 milhões de euros). Ele se tornou um dos jogadores brasileiros mais valiosos da história.
Milton Cruz procurou o empresário de Roberto Firmino. Era o alemão Roger Wittman, dono da Rogon Sport Management, que decidiu abrir um braço da empresa da Alemanha em Florianópolis. Afinal, ele gostou das praias da capital catarinense. A consulta do são paulino acabou sendo com Christian Rapp, diretor da empresa, que frustrou qualquer conversa: “Ele já está negociado com o Hoffenheim”.
O resto é história recente e bem sucedida do jogador nascido em Maceió que o São Paulo não quis e que se transferiu para o time alemão quando tinha 19 anos. Firmino estourou na Bundesliga quando, na temporada de 2013/2014, marcou 16 gols e deu 12 assistências na temporada ajudando o Hoffnheim a ficar em nono lugar.
Ele foi chamado pelo técnico Dunga para a seleção brasileira e não negou fogo. Já marcou quatro gols e está se fixando no time titular. Para alguns amigos, Firmino já disse que acha que foi mal avaliado pelos olheiros tricolores. O tempo se encarregou de provar que ele está certo.
Mas dificilmente o atacante do Liverpool vai reclamar em público. Aliás, ele é econômico nas palavras e nas declarações polêmicas. Firmino é daqueles atletas que pagam assessor de imprensa para evitar entrevistas.
Trata-se de um jovem de 23 anos, casado com Larissa Pereira e pai de Valentina, que gosta de passar o tempo livre em casa com a família. Ele gosta de mimar a irmã Roberta. Adora massas e churrasco. Quando o Brasil jogou contra o México, na folga depois da partida, ele jantou num rodízio da zona oeste de São Paulo. Se foi reconhecido, contou com a discrição dos clientes.
O Liverpool é o primeiro time de massa, em escala mundial, da carreira de Firmino. A exposição e fama vão aumentar. Se pudesse pular esta parte, ele agradece, mas quem foi fã de carteirinha de Ronaldinho Gaúcho vai precisar acostumar com o assédio. Não vai dar para sair correndo das entrevistas coletivas, como fez nesta semana no Chile.
Na trilha de Ronaldinho, Firmino fez estágio por três semanas no Paris Saint German. Isso aconteceu em 2009.
Milton Cruz acha que, se o jovem Roberto tivesse passado mais cedo pelo crivo dele, teria jogado pelo São Paulo. Orgulhoso de ter levado Kaká, Júlio Batista, Lucas e outros talentos da base para o profissional, o auxiliar técnico lamenta ter enviado o alagoano para Cotia, sem poder olhar mais de perto o potencial do atacante. “Cada um tem seu olhar”, disse.