Corintianos presos podem pegar 10 anos de cadeia; Gaviões nega acusações
Luciano Borges
Indiciado em crimes de formação de quadrilha, lesão corporal e outros artigos, os 27 torcedores corintianos que estão presos desde o dia 15 de abril podem ser condenados a até dez anos e meio de prisão. A Justiça não concedeu o pedido de habeas corpus feito pelos advogados da uniformizada Gaviões da Fiel. Continuam encarcerados.
Por isso, nesta quinta-feira, a organizada enviou aos jornalistas uma nota oficial onde questiona os argumentos apresentados pelo Ministério Público na denúncia que foi acatada pela Justiça e resultou na Operação Cartão Vermelho.
No documento, os corintianos afirmam que o fato considerado violento pelo Juizado do Torcedor tratou-se apenas de um “desentendimento no trânsito: “A justificativa do Ministério Público de São Paulo para a prisão foi um desentendimento no trânsito, após a última partida entre Corinthians e Palmeiras, envolvendo o caminhão dos Gaviões da Fiel e um carro com torcedores palmeirenses”.
O “desentendimento” citado na nota oficial da Gaviões, é descrito de outra maneira pelos três promotores que elaboraram ao pedido de prisão preventiva dos 27 corintianos:
“No dia dos fatos, após a partida disputada entre as equipes Palmeiras e Corinthians, no estádio do Pacaembu, os indiciados e o adolescente João Vitor, transportavam barras de ferro no baú do caminhão Iveco/Daily, placas EWJ 1235, juntamente com os instrumentos musicais da torcida, preparados para, a qualquer momento, praticarem crimes violentos.
Tanto que na primeira oportunidade em que tiveram, ao pararem num semáforo, na avenida Dr. Arnaldo, e ao avistarem um carro com torcedores do Palmeiras, desembarcaram e, gratuitamente, passaram a danificar o veículo que Marcos se encontrava com seu filho Elvis e seu amigo Bruno, utilizando-se de barra de ferro e chutes, chegando a quebrar um dos retrovisores.
Neste instante, a vítima saiu do auto para se proteger e evitar que danificassem o carro, momento em que foi covardemente agredida com socos, pontapés e golpes de barra de ferro, não sofrendo maiores consequências graça a intervenção de transeuntes e da polícia militar que chegou rapidamente no local”.
A nota oficial da Gaviões garante também que não foram encontradas armas no caminhão e que o veículo tinha sido inspecionado pela Polícia Militar antes mesmo do clássico entre Corinthians e Palmeiras: “Importante salientar, inclusive, que a Polícia Militar resolveu tal ocorrido no próprio local, conduzindo os envolvidos ao DP e, logo em seguida, liberando os mesmos após não encontrar quaisquer tipos de armas (paus, barras, pedras e afins) que pudessem ter sido usados em um confronto ou qualquer prova contundente para justificar uma prisão preventiva”.
Não é o que consta da denúncia elaborada pelo Ministério Público:
“Segundo restou apurado, os indiciados e o adolescente, integrantes da Torcida Organizada Gaviões da Fiel, se associaram para a prática de atos violentos, criminosos, utilizando-se a sede da torcida como ponto de encontro e depósito para guardar barras de ferro, pau, bombas etc., servindo, ainda, como quartel general para a arquitetura dos atos violentos e criminosos costumeiramente noticiados pela imprensa, conforme boletins de ocorrências relatório de investigação juntados em anexo”.
Mais uma vez, a direção da Gaviões da Fiel afirma estar sendo vítima de perseguição política, por causa das campanhas e protestos que vem fazendo pedindo a CPI da Merenda Escolar em São Paulo e acusando o deputado estadual Fernando Capez de corrupção. O parlamentar que é presidente da Assembleia Legislativa e é procurador, nega envolvimento com o caso.
Perguntado pelo Blog do Boleiro sobre o teor da nota oficial, o promotor Paulo Castilho, do Juizado do Torcedor, disse que o caso está “sub judice” e que a denúncia enviada à Justiça está fundamentada nas investigações da polícia.
NOTA OFICIAL – PRISÃO DOS 27 ASSOCIADOS DOS GAVIÕES DA FIEL
No último dia 15 de abril – mesmo dia de nossa grande manifestação no Vale do Anhangabaú, uma operação da Policia Civil terminou com a prisão de 27 associados dos Gaviões, sendo a maioria deles pertencentes ao Departamento de Bandeiras da torcida.
A justificativa do Ministério Público de São Paulo para a prisão foi um desentendimento no trânsito, após a última partida entre Corinthians e Palmeiras, envolvendo o caminhão dos Gaviões da Fiel e um carro com torcedores palmeirenses.
O caminhão em questão é usado por nossa torcida para transportar faixas, bandeiras e instrumentos, além dos jovens responsáveis por organizar e fazer nossa festa nas arquibancadas. Importante salientar, inclusive, que a Polícia Militar resolveu tal ocorrido no próprio local, conduzindo os envolvidos ao DP e, logo em seguida, liberando os mesmos após não encontrar quaisquer tipos de armas (paus, barras, pedras e afins) que pudessem ter sido usados em um confronto ou qualquer prova contundente para justificar uma prisão preventiva.
Porém, o argumento que sustenta a manutenção do encarceramento de nossos associados é que “o caminhão estava preparado para uma guerra”. Mesmo respeitando e colaborando com o poder investigativo da Policia Civil, nossa diretoria rechaça tal argumento e questiona o real motivo de tais prisões.
Intriga-nos tal acusação ainda mais quando levamos em consideração o fato de o nosso caminhão ter sido, bem como é em todos os jogos, revistado e vistoriado pela Policia Militar, além de ter sido acompanhado pelo 2° Batalhão de Choque do Estado de São Paulo, de acordo com as medidas de prevenção à violência vigentes na cidade.
A Operação Cartão Vermelho, responsável por tais prisões, além de apreensões injustificadas e a tentativa de fechamento dos Gaviões da Fiel, utiliza um argumento central para a manutenção das prisões que não condiz com a realidade.
Reforçando nosso estranhamento, tornou-se público, inclusive tendo sido amplamente divulgado na mídia, que um dos pedidos de prisão foi expedido para um torcedor que não mora no Brasil faz, pelo menos, um ano. Segundo as investigações, ele era um dos envolvidos em uma briga entre torcedores.
Com isso, a diretoria dos Gaviões da Fiel reitera a posição expressa no dia da nossa manifestação (15 de abril), no Vale do Anhangabaú: tememos que nossas recentes causas e lutas possam desencadear em prisões políticas, um fenômeno conhecido historicamente no Brasil, mas que não se esperaria em plena democracia.
Nós, enquanto diretoria, reafirmamos nosso compromisso com as causas que consideramos justas e que estejam de acordo com as ideologias históricas dos Gaviões da Fiel, bem como a luta pela CPI das Merendas (todo nosso apoio aos estudantes e suas ocupações), o fim da elitização do futebol e o monopólio da transmissão dos jogos por parte da Rede Globo.
Que a Justiça NÃO seja cega, seletiva, e muito menos midiática.
Diretoria dos Gaviões da Fiel Torcida