Como Messi, Romário desistiu da seleção; voltou e ganhou a Copa de 1994
Luciano Borges
Lionel Messi anunciou o adeus à seleção da Argentina, desgastado com a AFA e frustrado por mais uma vez não conquistar um título importante com o time nacional. Mas se ele quiser, pode se inspirar em Romário e mudar de ideia.
Como Messi, Romário disse que não jogaria mais na seleção. Foi no domingo, dia 24 de junho de 1990, logo depois da derrota do Brasil para a Argentina por 1 a 0 e a eliminação logo na segunda fase do torneio.
Os jogadores brasileiros ainda estavam no vestiário do estádio Delle Alpi, em Turim (Itália). Sentado em uma poltrona na janela do ônibus da delegação, o atacante chamou o repórter da Folha de S. Paulo e disse: ''Pode anotar: esta foi a minha primeira e última Copa''.
Ao lado do Baixinho, estava Bebeto. Os dois não entraram em campo contra a Argentina de Diego Maradona. Viram a partida da tribuna. Romário não conseguiu jogar por causa de uma cirurgia no tornozelo direito. A passagem dele contra a Escócia mostrou que faltava equilíbrio e ele foi poupado. Bebeto sentiu uma lesão ao subir uma escada no hotel na cidade de Asti, onde o Brasil se concentrou.
Quando Caniggia marcou o gol da vitória dos argentinos, aos 35 minutos do segundo tempo, Romário desceu até a beira do gramado e gesticulou pedindo para que os companheiros fossem ao ataque.
Três dias depois, no desembarque no Rio de Janeiro, Bebeto também anunciou: ''Não pretendo voltar à seleção''. Ele estava irritado com o técnico Sebastião Lazzaroni que acabou preferindo a dupla de ataque formada por Careca e Muller.
Romário sustentou o que tinha dito. Ele estava descontente com o médico do selecionado, Dr. Lídio de Toledo. O médico nunca aceitou a presença do fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé, imposto pelo atacante desde a chegada no hotel em Madri, onde o Brasil começou a preparação na Europa.
Filé ficou na delegação para cuidar intensivamente de Romário e colocá-lo em condições de ser inscrito para a Copa da Itália. Já em Gubbio, cidade medieval na região da Umbria, o fisioterapeuta acabou dando dicas para alguns atletas como o próprio Careca que estava se auto tratando de uma dor na virilha. Lídio soube, não gostou e os dois discutiram durante um almoço.
Romário prometeu não jogar mais pela seleção. Jogou, mas ficou irritado com Carlos Alberto Parreira, sucessor de Lazzaroni, que o convocou para um amistoso contra a Alemanha, em Porto Alegre, e o colocou na reserva. Entrar no segundo tempo no lugar de tirou o atacante do Barcelona do sério. Ele falou em tom ofensivo com o auxiliar técnico Zagallo e teve que ser afastado.
A campanha do Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 ajudou a fazer Parreira mudar de ideia. No último jogo, contra o Uruguai no Maracanã, a seleção precisava da vitória para garantir vaga nos Estados Unidos. Romário foi chamado, fez dois gols do triunfo por 2 a 0. Garantiu lugar nos jogadores que foram ao Mundial.
Nos EUA, Romário marcou cinco gols e liderou o ataque ao lado de Bebeto que levou o time brasileiro ao tetra campeonato mundial.
Depois, Romário quis disputar as Copas de 1998 e 2002. Na França, ele foi cortado por contusão e nunca perdoou o técnico Zagallo e o diretor de seleção Zico. Depois, louco para jogar o Mundial da Ásia ao lado de Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, chegou a pedir publicamente um lugar no grupo de Luiz Felipe Scolari. Não foi atendido e viu o Brasil conquistar o penta fora do campo.
Lionel Messi pode manter a palavra logo depois de mais uma final perdida para o Chile nas penalidades, com a cobrança desperdiçada por ele.
Mas se quiser, é só perguntar ao senador Romário: parece que voltar atrás fez bem para ele.