Blog do Boleiro

Arquivo : maio 2015

Ceretta avisa: no Brasileiro, jogo duro para quem reclama e pede cartão
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Luciano Borges

O árbitro Guilherme Ceretta de Lima, que apitou a final do Campeonato Paulista entre Santos e Palmeiras, manda avisar: “A maneira como os árbitros vão tratar as reclamações vai mudar no Campeonato Brasileiro”. E será mais dura. “Não vamos tolerar nenhuma reclamação acintosa”, disse o juiz que expulsou Dudu e Geuvânio porque eles se agarraram na área, perto dele.

A nova postura foi determinada pela CBF para acabar com uma mania brasileira: jogador que sofre falta e cai acaba levantando o braço com a mão balançando um cartão amarelo ou vermelho imaginário. “Quem gesticular, reclamar, jogar a torcida contra o árbitro não será tolerado”, disse Ceretta.

Na decisão deste domingo, Ceretta mostrou três cartões vermelhos (Dudu, Geuvânio e Victor Ramos) e sete cartões amarelos, cinco deles por entradas mais duras e dois por atitude inconveniente (Valdívia e Dudu). Os dois reclamaram de marcações do árbitro.

A ordem da Comissão Nacional de Arbitragem foi dada já a partir da Copa do Brasil. A ideia é acabar com um costume que tornou os jogadores brasileiros famosos entre os juízes internacionais: cai-cai e reclamação pedindo cartões.

“Na última Copa do Mundo, ficou visível que os jogadores brasileiros pegavam árbitros europeus pela frente e acabam tendo mais dificuldade. Os juízes não acreditam no jogador brasileiro”, disse Ceretta.

 


Expulsos e sem tevê no doping. Geuvânio e Dudu sofrem durante a final
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Luciano Borges

Geuvânio prepara finalização pelo Santos na decisão de domingo Foto: Danilo Verta / FolhaPress

Geuvânio prepara finalização pelo Santos na decisão de domingo Foto: Danilo Verta / FolhaPress

“Deu desespero”. Foi assim que o atacante Geuvânio, do Santos, se sentiu durante cerca de 50 minutos, na Vila Belmiro. Tudo porque ele e Dudu, do Palmeiras, foram expulsos de campo no final do primeiro tempo e descobriram que não podiam ir até o vestiário para acompanhar o segundo tempo da final do Campeonato Paulista pela televisão. “O rapaz do doping me pegou e disse que eu tinha que ficar na sala da coleta até que o sorteio fosse feito”, contou.

Assim, sem banho nem TV, a dupla expulsa passou os 15 minutos do intervalo e 35 minutos de partida na segunda etapa tentando adivinhar o que estava acontecendo no gramado.

“Era assim, quando o barulho era grande, eu sabia que a jogada foi do Santos. Se o barulho fosse menor, o Dudu sabia que era a do Palmeiras”, contou o santista. Até a hora de serem liberados – os dois atletas não foram sorteados para o antidoping – apenas o Palmeiras marcou. O lateral-direito Lucas fez o primeiro gol do alviverde quando a aprtida ainda estava 2 a 0 para os santistas.

Os dois jovens atletas conversaram pouco no vestiário. “A gente estava tenso com a expectativa do que acontecia no campo. Então, quase não falamos”, revelou Geuvânio.

Eles estavam de acordo sobre o cartão vermelho que receberam do árbitro Guilherme Ceretta de Lima: “Foi injusto. A gente só se agarrou ali na entrada da área. Não era nem para a gente levar amarelo. Eu não fiz nada e ele se esquivou. Quando muito, o juiz poderia ter dado o amarelo. Mas era só”, afirmou Geuvânio.

Com a expulsão, o santista ficou fora da decisão por pênaltis. “Nos treinos, cobrei várias vezes e converti todas. Eu estava preparado”, disse. Liberados, os jogadores foram cada um para seu vestiário. Geuvânio ficou lá, vendo os últimos minutos da decisão. quando a partida acabou, ele subiu e fez a corrente com os reservas, já no gramado.

Depois da conquista do título estadual, o jovem atleta do Santos comemorou com os amigos. “Eu estava até perfumado porque, embora não tivesse tomado banho, suei pouco”, brincou.

A sensação de ser campeão?

“É muito boa. Quero mais. Minha história aqui no Santos começou a ser escrita ontem, graças a Deus”, afirmou o atleta que tem contrato até 2017.

Na tarde desta segunda-feira, ele voltou a treinar. Afinal, no meio desta semana, o time vai encarar o Maringá, pela Copa do Brasil. Depois, na abertura da Série A do Campeonato Brasileiro, o campeão paulista de 2015 vai visitar o Avaí, em Florianópolis. ” Vamos atrás destes dois torneios. Não podemos parar e ficar contentes com o Paulistão. Queremos mais”, disse.


Bahia faz festa com churrasco. Técnico começa montagem para Série B
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Luciano Borges

A festa da conquista do título baiano foi numa churrascaria da cidade, num jantar barulhento com jogadores e familiares, além da comissão técnica e de dirigentes do Bahia. O técnico Sérgio Soares saiu antes, no início da madrugada desta segunda-feira. Tinha vôo marcado para São Paulo, onde vai ficar até terça-feira com a família. Depois retorna a Salvador para realizar a próxima tarefa: “Temos que reforçar o time para disputar a Série B”, disse ao Blog do Boleiro.

Ele acha que o grupo atual precisa de gente com experiência para equilibrar com os 20 jogadores vindos da base do clube. “Não foi fácil. Tivemos que fazer nova estrutura da equipe nestes quatro meses de temporada”, falou o treinador.

A julgar pelo número de pagantes ( 21,141) na partida final contra o Vitória da Conquista, na Arena Fonte Nova, o torcedor do tricolor baiano tinha pouca fé na virada que aconteceu.

Afinal, a semana passada não foi das melhores. O Bahia perdeu o jogo de ida contra o Conquista por 3 a 0. Depois, na quarta-feira, veio a derrota para o Ceará na decisão a Copa do Nordeste. Neste domingo, o time precisava vencer por mais de três gols. Fez seis no total.

Blog do Boleiro – O Bahia exagerou. Poderia ser campeão com quatro gols.
Sérgio Soares – A gente tinha que dobrar, se tomamos três na ida, tínhamos que fazer seis na volta.

O que você falou para os jogadores depois da perda do título da Copa do Nordeste para o Ceará, na última quarta-feira?
Eu tive muita conversa com eles. Lembrei que a oportunidade de conquistar este título estadual, neste início de trabalho, era real. Perdemos por três gols em 90 minutos e dava para reverter.

Os primeiros 23 minutos foram uma aula de sufoco.
Não foi? Jogamos no campo deles, marcamos duro. Mas nós jogamos deste jeito em 80 por cento dos jogos deste ano. Voltamos a fazer. Marcação alta, pressionando. Era necessário fazer e o time jogou o que vinha fazendo. E olhe que o Vit´poria já tinha nos vencido em duas partidas, uma no início do torneio por 2 a 0 e este jogo de ida em Vitória da Conquista.

E agora?
Primeiro comemoramos o título. O presidente do clube chamou todo mundo para uma churrascaria. Vou estar em São Paulo já nesta segunda-feira. Mas a partir de amanhã temos que pensar na programação até o final do ano.

Este time tem boa perspectiva para a Série B?
A Série B deste ano está muito forte, especialmente porque o Bahia está lá. Nosso time é forte candidato. Vamos ter que reforçar mais o grupo, aumentando a competitividade dentro do elenco. Em quatro meses, estruturamos e remontamos a equipe. No elenco profissional, temos 20 garotos vindos da base. É preciso dar um pouco de experiência ao grupo.

Já tem nomes de reforços?
Temos e a diretoria do Bahia está vendo esta parte. Na verdade, trouxemos três reforços: o lateral-esquerdo Marlos, o meia Eduardo (ex-Ceará) e o zagueiro Jaílton (ex-Avaí).

Deste jovens jogadores, que se destacou no Campeonato Baiano deste ano?
O goleiro Jean. Ele tem 19 anos, é de seleção brasileira Sub-20 e seleção olímpica. É a maior revelação desta safra.


No relatório, juiz implica Dudu. Ceretta ganha nota 9 do chefe do apito
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Luciano Borges

O árbitro Guilherme Ceretta de Lima colocou no relatório do clássico Santos x Palmeiras, deste domingo, que foi atingido pelas costas pelo atacante Dudu, do Palmeiras. A agressão ocorreu logo depois que Ceretta mostrou o cartão vermelho para o palmeirense e para Geuvânio, do Santos, num lance no final do primeiro tempo.

Na súmula, Dudu é acusado de proferir ofensas com palavrões. Com isso, Dudu poderá ser enquadrado em dois artigos da Justiça Desportiva, o que pode lhe render uma pena pesada. No artigo 254a, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, o artigo 3º prevê suspensão de até 180 dias.

Leia abaixo o trecho do relatório:

Eduardo Pereira Rodrigues – (Dudu)

Palmeiras

Cartão Vermelho Direto

Descrição: APÓS TER SOFRIDO UM TRANCO DO SEU ADVERSÁRIO, SR. GEUVANIO SANTOS SILVA, N. 11, ATINGIU COM O ANTE BRAÇO AS COSTAS DO MESMO, QUANDO A PARTIDA SE ENCONTRAVA PARALISADA, SENDO EXPULSO DE IMEDIATO. ATO CONTÍNUO PARTIU EM MINHA DIREÇÃO, E DESFERIU UM GOLPE DE FORMA INTENCIONAL COM SEU ANTE BRAÇO ATINGINDO AS MINHAS COSTAS, PROFERINDO AS SEGUINTES PALAVRAS: – ” VOCÊ É UM SAFADO, SEM VERGONHA, VEIO AQUI ROUBAR A GENTE, SEU FILHO DA PUTA, MAU CARÁTER, LADRÃO”, TENDO QUE SER CONTIDO PELOS SEUS COMPANHEIROS.(VERMELHO DIRETO)

Ceretta e a equipe de arbitragem da final do Campeonato Paulista receberam nota 9 do presidente da comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol. “O Ceretta foi bem. Ele passou a responsabilidade do jogo para os atletas”, disse o coronel Marcos Marinho. Ele fez apenas uma ressalva à atuação do juiz: a expulsão de Dudu e Geovânio.

“Ele poderia ter evitado as expulsões. Poderia ter dado cartão amarelo e chamado a atenção dos dois atletas. Mas ele viu os dois se agarrarem muito perto dele e acho que ele quis puxar o jogo para ele, para controlar o jogo”, afirmou o homem forte do apito paulista.

Ceretta expulsou também o zagueiro Víctor Ramos no segundo tempo. “Ali o Ceretta fez o certo que era expulsar”, disse.

Marinho estava satisfeito com uma atuação em especial, a do assistente Emerson Augusto de Carvalho. “Os lances dos gols onde poderia haver impedimento foram todos no lado dele. E ele acertou todas as marcações, incluindo a do lance do Palmeiras que terminou nos pés de Amaral, mas ele estava impedido”, avaliou.

Logo depois da conquista do título paulista pelos santistas (2 a 1 no tempo regulamentar e 4 a 2 na decisão por pênaltis), Ceretta escreveu a súmula do jogo. O relatório demorou para sair. Às 21H10, o juiz ainda estava preenchendo o formulário virtual que é fornecido para FPF junto com um laptop. “Ele tem muitos cartões para citar e explicar”, explicou o Cel. Marinho.

Nesta segunda-feira, ele vai apresentar uma lista de nomes de árbitros que foram melhores avaliados pela comissão de arbitragem da FPF. O presidente Reinaldo Carneiro Bastos vai discutir com o Cel. Marinho quem será escolhido o melhor juiz desta Campeonato Paulista. Ceretta é um dos indicados.

 


Palestras e curso de técnico. As opções de Rogério Ceni quando parar
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Luciano Borges

foto: Blog do Boleiro

foto: Blog do Boleiro

Rogério Ceni tem algumas ideias sobre o que vai fazer quando parar de jogar. “Eu vou voltar a dar palestras para empresas e talvez um curso de treinador lá fora”, disse ao Blog do Boleiro. O contrato do goleiro com o São Paulo termina no dia 6 de agosto e ele ainda não mostrou disposição de estender este acordo. Numa conversa informal com Mauro Naves, da TV Globo, o repórter provocou: “Seguir jogado depois desse prazo é pensável?”. A resposta foi esta: “Eu diria que é dispensável”. E riu.

Ceni, aos 42 anos, enfrenta o mesmo problema que já fez outros arqueiros pararem de jogar: dores. Na última sexta-feira, depois de uma sessão de treinamento no estádio do Morumbi, ele – como sempre – foi o último atleta a deixar o vestiário. E se queixou: “Estou todo dolorido, quebrado. Quero ir para casa descansar”, disse.

Depois da vitória sobre o Corinthians, o time do São Paulo ganhou duas semanas para treinar e se preparar para enfrentar o Cruzeiro, na partida de ida das oitavas de final da Copa Libertadores da América. Os últimos dias foram desgastastes. “Treinei duas vezes por dia. Na terça-feira, fiz três sessões porque ainda corri à noite. Mas aí senti uma tendinite pequena e maneirei”, disse. O goleiro está bem, mas sabe que a sequência de treinos com quedas, vôos, tombos fazem mais mal ao corpo do que faziam antes.

Hoje, jogar é menos dolorido do que treinar. “O cansaço é mais mental. Uma partida como a do Corinthians, eu nem fui muito acionado. Mas aí mora o perigo porque não posso errar nas poucas vezes que ela chega ao gol”, falou. A previsão de Ceni é que a partir de agora, ele terá mais trabalho em campo. “O Cruzeiro e mesmo os times da Série A do Brasileiro são mais fortes do que as equipes do Campeonato Paulista. Não vai ter mais aqueles jogos em que sou pouco acionado”, falou.

Até o dia 6 de agosto, quando pretende aposentar as luvas, Rogério Ceni corre atrás de mais uma marca: entrar para a lista dos 10 maiores artilheiros da história do São Paulo. Além da Libertadores, ele poderá disputar cerca de 16 partidas, sendo última contra o Atlético Mineiro em Minas Gerais. Até agora, Rogério marcou 127 gols com a camisa de goleiro do São Paulo. Ele tem um gol a menos do que Raí, o número 10 da lista. “Será que vou conseguir? Não sei”, admitiu.

Uma coisa é certa, Ceni já discute o que vai fazer no futuro. Não descarta a possibilidade de dirigir o São Paulo, no campo (como treinador) ou fora dele (como dirigente). Nesta temporada, ele suspendeu as palestras de motivação que dá em eventos corporativos. “Não ia dar tempo legal. Preciso me preparar sempre”, disse. Por isso, deve retomar o ciclo o segundo semestre.

Isto se ele realmente parar. Afinal, a diretoria tricolor ainda pensa em propôr mais uma extensão de contrato.

 


Milton Cruz decide sozinho, perde peso e diz que só “está” técnico do SPFC
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Luciano Borges

Milton Cruz posa para foto com torcedores Foto: Blog do Boleiro

Milton Cruz posa para foto com torcedores Foto: Blog do Boleiro

Milton Cruz está quatro quilos mais magro. A única explicação que ele dá para esta perda de peso é “preocupação”. “Eu nem durmo direito. Fico pensando o que vou fazer, como vai ser o trabalho do dia seguinte. Além disso, minha vida virou uma correria. Tem sempre algo pendente para fazer”, disse o treinador do São Paulo que continua a dizer que “está no cargo”.

Nesta sexta-feira, ele levou o time do São Paulo para treinar no estádio do Morumbi. Em casa, Cruz teve uma pequena ideia do que o status de técnico anda fazendo com ele.

Na saída do treinamento – ele foi até em casa para trocar de roupa e voltar a fim de dar uma entrevista à TV Globo – Milton Cruz encontrou cerca de 100 torcedores no portão principal do estádio tricolor. Ele deu autógrafos e posou para fotos, sempre atrás da grade. Passou cerca de dez minutos nesta função. Mais tarde, por volta das 13h00, quando se preparava para entrar ao vivo, Milton ouviu um grupo de torcedores na numerada gritando: “É Milton Cruz!”.

Este refrão poderia ser outro. “Está Milton Cruz!”.

Longe do dilema shakesperiano de Macbeth (“to be or not to be”), Milton Cruz aceita estar treinador, mas não quer ser efetivado no cargo. Os quilos a menos são uma lembrança de como é dura a vida de “professor”. Há 21 anos como assistente técnico, Milton já levou técnicos para o hospital em cinco ocasiões. Duas delas foram com Muricy Ramalho, amigo de trabalho que deixou o clube há pouco mais de 20 dias. “Uma vez, ele sentiu um formigamento no braço esquerdo. Depois foi quando ele teve a arritmia cardíaca”, lembra o ex-atacante do São Paulo que passou sete temporadas como jogador.

Ricardo Gomes sofreu um AVC, ainda no CT da Barra Funda. Paulo Autuori também teve um problema de coração. E Vadão foi diagnosticado com arritmia cardíaca depois de passar mal no ônibus da delegação em Porto Alegre. Sem falar em Telê Santana, que também teve uma isquemia. ” Eu já trabalhava, mas não diretamente com ele. É um stress danado esta profissão”, afirmou o homem que vai dirigir o São Paulo nas oitavas de final da Copa Libertadores da América. Segundo o vice-presidente da futebol, Ataíde Gil Guerreiro, Milton vai permanecer no cargo mesmo que perca ou seja eliminado pelo Cruzeiro. “Ele irá trabalhar enquanto procuramos com calma um treinador que seja do perfil que queremos”, disse nesta sexta-feira no Morumbi.

Para complicar a vida do auxiliar que virou técnico, Milton Cruz – acostumado a aconselhar os técnicos – anda meio sozinho. Perguntado sobre com quem discute a escalação e as estratégias da equipe, ele respondeu: “Por enquanto só eu mesmo”. A comissão técnica, como está no momento, não tem assistente para o treinador.

Os dirigentes tricolores sabem que a disposição de Milton Cruz é a de permanecer como integrante da comissão técnica. “Eu sei a minha importância para o clube e o clube sabe da minha importância”, disse ao Blog do Boleiro. Neste tempo todo em que trabalha como funcionário do clube, Milton foi sondado para desenvolver o trabalho de observador no Palmeiras, quando o time contava com a parceria da Traffic. Ele chegou a ser cotado para trabalhar na seleção brasileira.

Ele gosta mesmo do São Paulo. Por isso não foi mordido pela ambição de ser treinador. Prefere estar. “É assim que é”, disse.]

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Olhos abertos e ligado. Juiz da final não quer saber de provocações
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Luciano Borges

Sexta-feira, Dia do Trabalho, Sorocaba (SP). Às oito horas da manhã, Guilherme Ceretta de Lima saiu de casa e iniciou uma corrida de dez quilômetros até a casa dos pais dele em uma cidade vizinha, Votorantim. Como sempre faz, ele não deu voltas nem correu em círculos. “Eu dou uma trotadinha para tirar a adrenalina. Treino todo dia, menos no sábado, quando tem jogo domingo”, disse ao Blog do Boleiro o árbitro que vai apitar a final do Campeonato Paulista entre Santos e Palmeiras, na Vila Belmiro.

Amanhã, ele entra em regime de concentração num hotel em São Paulo, junto com os auxiliares. Neste sábado, eles verão vídeos analisando como jogam os finalistas, se fazem linha de impedimento, se têm jogadores que reclamam ou cavam faltas ou dão trabalho ao juiz. Ceretta diz que absorve as informações, mas vai para o jogo sem nenhum pré-julgamento. “Entro preparado, mas não fico pensando que vai acontecer isso ou aquilo. Aí não acontece nada, você fica na tensão e não curte o momento do jogo”, afirmou.

Desde 2005, ele apita na primeira divisão do futebol paulista. É aspirante da Fifa. Apitou o clássico São Paulo e Corinthians em que Rogério Ceni marcou o 100º gol da carreira. É intrutor de futebol de um time da cidade de São Roque (SP), comandando o time Sub-20.

Numa conversa por telefone, Ceretta, empresário, professor, pedagogo e modelo de 31 anos, falou sobre como pretende trabalhar na Vila Belmiro e ainda contou detalhes do equipamento que usa em campo.

Blog do Boleiro – Quer dizer que você não corre em círculos?
Guilherme Ceretta de Lima – Eu não gosto de correr em voltas. Não corro em pista, por exemplo. Se vou correr 10 kms, peço para alguém me levar de carro até um ponto e volto correndo. E sempre faço um trajeto diferente. Se não, enjoa.

E o pessoal mexe com você?
Sempre tem alguém que mexe, que fala comigo, mas é de um jeito positivo. Tem aquele que pede para ajudar o time dele. Outros pedem para não roubar. Mas tudo em tom de brincadeira.

A concentração dos juízes é parecida com a dos times. Ajuda?
Ajuda bastante, mas é preciso ir para o jogo sem nenhuma predisposição. Não entro para o jogo achando que jogador A vai fazer isso ou aquilo. Se fizer isso, o árbitro acaba se dando mal. O negócio é ir lá e ver o que vai acontecer, minuto a minuto. A gente não pode errar no aspecto disciplinar.

Como se faz isso?
Eu entro para apitar com muita vontade de acertar. Eu vou pra dentro. O árbitro não pode ficar acuado. Não pode mostrar que tem medo. Se não avançam em cima. Tem que impor respeito para ser respeitado.

Aliás, esta semana nós tivemos um funk do Robinho, brincando com o Palmeiras, e uma resposta do Leandro. Este tipo de brincadeira pode refletir em campo?
Sabe o que acho? Tem muito mi mi mi no futebol. Os caras não podem fazer nada. Juiz de futebol não tem que saber de provocações fora de campo. Tem que entrar isento de tudo. Não pode ficar preocupado se um fez um declaração e outra fez outra. Acho até legal que os atletas façam isso para promover o jogo. Em campo, eles têm que ter respeito e está tudo bem.

Esta é a segunda final que você apita.
Verdade. Em 2013, trabalhei na final do Paulista, na Vila Belmiro também,. Santos e Corinthians empataram em 1 a 1. Não tive nenhum problema, nenhuma polêmica. Foi ótimo. É assim que tem que ser. O juiz tem que apitar o final da partida e ninguém falar dele.

Que material você vai levar para esta final?
O de sempre: apitos, cartões, relógios e o uniforme.

Quem fornece o uniforme?
A empresa que fornece o material para a Federação Paulista de Futebol. Em geral, ganhamos duas camisas, o calção preto e chuteiras. O resto é por nossa conta.

Que tipo de apito você leva?
Eu levo quatro apitos. Entro em campo com dois. Um é mais agudo e outro mais grave. Porque tem sempre aquele torcedor que leva um apito para confundir. Se o apito dele é agudo, eu mudo para o grave. Agora se o cara levar dois apitos, aí é sacanagem (risos).

Eles silvam ou trilam?
Silvam. Quer ouvir? (Ceretta assobia um silvo forte). Eu faço igual assobiando.

Quantos relógios?
Também levo quatro. Eu entro com um em cada pulso. Vai saber se a bateria de um deles acaba no meio do jogo. Em dez anos de arbitragem isso nunca aconteceu. Vai que acontece agora.

CERETTAOK

Cartões?
São de plástico, meio verde e meio vermelho. Eu compro personalizado, com meu nome e os escudos. Os que ainda tenho possuem um escudo da Copa do Mundo de 2014, outro da Conmebol, outro da FPF e da CBF. Atrás, para anotar o nome dos atletas advertidos, tem quadrados para preencher. Para anotar, uso lápis grafite 2.0, que são mais grossos. Meus cartões estão acabando porque sempre dou para quem pede depois dos jogos. O cara que vende para mim sumiu, acho que não faz mais.

Alguma superstição?
Nenhuma.

Para qual time você torce?
Se depender do que escrevem nas mídias sociais, eu torço para vários times grandes. Na verdade, eu gosto mesmo do Grêmio União Sanroquense, que é time amador e espero que nunca se profissionalize.

Como você vai entrar em campo domingo?
Ligado e com olhos bem abertos para ver tudo corretamente. Que cada um cuide do seu que vença o melhor. Fui sorteado. Sobrou para mim. É minha missão. Fiz um bom campeonato e quero passar despercebido. Quero ir para casa sabendo que fiz um bom jogo.